Sabores que navegam: Lisboa e Paraty conectadas pelo vinho
Paraty, com seu charme colonial, ruas de pedra e paisagens tropicais, foi o cenário escolhido para uma experiência que uniu história, natureza e o sabor dos vinhos de Lisboa. Durante três dias, a cidade recebeu um grupo de jornalistas para uma imersão sensorial em que o Atlântico uniu continentes — pela taça.



A Revista Manchete, por meio da coluna Agenda Rio 360, acompanhou de perto essa jornada que combinou enoturismo, cultura e descobertas. A proposta era clara: explorar a diversidade dos vinhos lisboetas em pleno litoral brasileiro, criando pontes entre paisagem e paladar.
Apesar de ainda serem pouco explorados pelo público brasileiro, os vinhos de Lisboa vêm se destacando como uma região de enorme potencial. Quando os brasileiros pensam em vinhos portugueses, geralmente lembram do Douro ou do Alentejo — mas Lisboa merece um lugar especial nessa memória. Suas vinícolas, algumas a apenas 15 minutos do centro da capital portuguesa, produzem rótulos extraordinários, marcados por frescor e identidade própria.
Guiada pela sommelière Elaine de Oliveira, especialista nos rótulos da região, a imersão apresentou uma seleção de vinhos de diversas sub-regiões de Lisboa, cada qual com sua personalidade, clima e história. A experiência foi uma forma de estreitar os laços com o público brasileiro:
“Lisboa é profundamente atlântica. Seus vinhos são verdadeiras joias que carregam o sal, o vento e a leveza do mar. E onde sentir isso de forma tão intensa quanto em Paraty?”, comenta Elaine.
“Queremos que os vinhos de Lisboa sejam reconhecidos não apenas pela qualidade, mas também pela sua história e autenticidade. Essa troca cultural com o Brasil tem um valor imenso para nós, e Paraty foi o cenário ideal para compartilhar essa narrativa.” – complementa a sommelière.
E por que Lisboa? Porque é plural, marcada pela presença do Atlântico — que molda os solos, refresca os vinhedos e imprime aos vinhos frescor, elegância e salinidade. Uma região viva, vibrante e cheia de personalidade.

Para André Teodoro, diretor de marketing da Comissão Vitivinícola Regional de Lisboa, a ação reforça a identidade dos vinhos da região:
“A região de Lisboa se estende da área metropolitana até um pouco acima de Fátima. São nove denominações de origem, cada uma com terroirs muito específicos. Embora diferentes entre si, esses terroirs compartilham características marcantes: em todos, o mar exerce uma forte influência, trazendo salinidade, leveza e frescor. Essa acidez vibrante confere aos vinhos uma harmonia perfeita com a culinária brasileira e portuguesa.”
Destaques entre as sub-regiões:
Colares
Vinhedos raríssimos, plantados sobre dunas de areia e protegidos do mar por paliçadas de cana. É uma das regiões mais próximas do oceano em toda a Europa. Seus vinhos, feitos com Ramisco (tinto) e Malvasia de Colares (branco), são longevos, minerais e inconfundíveis.
Óbidos
Charmosa e versátil, abriga desde pequenos produtores a vinícolas inovadoras. Seus brancos são aromáticos; os tintos, equilibrados — sempre com excelente relação entre qualidade e preço.
Bucelas
Terra da Arinto, uva branca de alta acidez e elegância. Os vinhos são cítricos, minerais e surpreendentemente longevos — favoritos históricos da corte inglesa.
Carcavelos
Pequena no mapa, gigante em história. Famosa pelos vinhos fortificados, hoje preservados por uma valiosa iniciativa pública. Seus rótulos são doces, intensos e complexos — verdadeiros tesouros.
Alenquer
De clima mais quente, produz tintos encorpados e profundos, mas com acidez equilibrada. Um exemplo de potência com elegância.
Arruda dos Vinhos
Vizinha de Alenquer, com solos argilosos e clima seco. Seus tintos se destacam pela qualidade e estilo contemporâneo, agradando tanto paladares clássicos quanto curiosos.
Torres Vedras
Uma das maiores e mais produtivas sub-regiões de Lisboa, sem abrir mão da qualidade. Seus tintos são descontraídos, frutados e ideais para o dia a dia.
Encostas d’Aire
Na transição entre Lisboa e o centro de Portugal, combina tradição e inovação. Produz tintos estruturados e brancos de boa acidez — sempre instigantes.
Lourinhã
Única região de Portugal com Denominação de Origem exclusiva para aguardente vínica. Seus destilados são complexos e carregam séculos de tradição.

E o que dizer das uvas? A diversidade da região também se expressa nas castas que compõem seus vinhos. Arinto, com sua acidez vibrante; Fernão Pires, aromática e expressiva; Castelão, versátil e cheia de personalidade; Vital, redescoberta em rótulos surpreendentes; Ramisco, joia de Colares; Touriga Nacional, intensa e estruturada; Alicante Bouschet, profunda e marcante. Um verdadeiro mosaico de sabores que revela a alma do território em cada taça.
Durante a viagem, a Agenda Rio 360 capturou não só os vinhos, mas também os encontros, sabores, conversas e a beleza única de Paraty. Foi uma verdadeira celebração da união entre o charme da Costa Verde e a elegância dos vinhos atlânticos portugueses.
Paraty ofereceu o cenário, Lisboa revelou sua alma, e o vinho tornou-se a ligação perfeita entre esses dois universos. Lisboa merece estar presente em suas taças e em suas histórias, mostrando que, em cada gole, reside um mundo de experiências, sabores e conexões — um convite para continuar explorando e valorizando o melhor desses dois mundos.