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Cadeg: Uma Casa Portuguesa

Cadeg
UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA!

Mesmo à distância, a gente sabe que está chegando em um cantinho legitimamente português do Rio de Janeiro. E não é nem pelo som das concertinas – instrumento muito parecido com o acordeom, que se popularizou em Portugal. O delicioso aroma de sardinhas na brasa entrega que, no Cadeg, todo sábado tem festa lusitana.

A foto mostra a vista de cima do Cadeg com o maior telhado solar do estado, contendo 5 mil placas fotovoltaicas instaladas.

Se o peixe morre pela boca, minha coluna hoje é para fazer você morrer de vontade de comer um bom bacalhau regado a uma taça de vinho. Uma não… Várias! Posso com tranquilidade relatar que o melhor é deixar o seu veículo em casa e investir no táxi ou no carro de aplicativo. Sabe aquele desenho animado em que o cheirinho bom parece fazer a gente levitar e ir flutuando atrás do sabor? É quase assim quando chegamos ao Cadeg.

O Cantinho das Concertinas é o point de encontro da comunidade portuguesa do Rio, todos os sábados. Porém, também tem os braços abertos a quem nem sequer passou perto da “terrinha”, como chamam os portugueses. Pessoas de todos os estados do Brasil, que nunca saíram do país, já sabem perfeitamente como são os ares de Lisboa só de pisarem no Cadeg! “A gente come primeiro pelo cheirinho da comida. Depois come a comida. E depois ainda vêm os doces portugueses!”, diz o motorista Carlos Santana, que no dia de folga do trabalho levou a sogra e as filhas para as compras, com os dois cachorros juntos. Diversão para a família toda.

 

Ao lado, a carismática florista que se apresenta como “Linda de Bonita”.

E como não se render à criatividade dos vendedores para atrair a clientela? Na loja de comidas nordestinas, então, o apelo é grande. Vem correndo lá de dentro um vendedor com uma cesta de pães de queijo quentinhos, saindo do forno, pedindo que as pessoas o ajudem a “voltar para a terrinha”. E adivinha? É venda na certa e comemoração com palmas e tudo. Na área das flores, sou recebido por uma moça sorridente segurando um vaso de orquídea e uma rosa no cabelo. Ela se apresenta: “Eu sou Linda de Bonita, prazer!”. Na mesma hora você já pensa em qual lugar da sua casa colocaria o vaso de planta. É a arte da venda – mais uma tradição que você encontra aqui no Cadeg.

“Em um dia ruim, recebemos de 13 a 15 mil pessoas e, aos sábados, mais de 50 mil. Então outras marcas estão querendo se consolidar aqui dentro. Estamos com novas propostas e realizando obras de expansão.”

Marcelo Penna, presidente do Cadeg

HISTÓRIA ENTRE FRUTAS E FLORES

Antes de se tornar o Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara, os comerciantes, em sua maioria portugueses e italianos, vendiam suas mercadorias no mercado municipal fluminense, que acabou sendo demolido. As décadas de 1950 e 1960 foram de profundas transformações no Centro do Rio de Janeiro. Com a demolição – para dar lugar ao também já demolido Elevado da Perimetral, entre outras obras –, os antigos comerciantes do local precisaram mudar de endereço. Foi quando, por meio da criação de uma cooperativa, comprar o terreno onde o Cadeg se encontra hoje, em Benfica, bairro da Zona Norte carioca. A inauguração foi em 1962, quando a capital do país já havia sido transferida para Brasília. Assim nasceu o condomínio “Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara”, que este ano completa 63 anos.

Apesar da vocação para frutas, legumes e verduras, o Cadeg deixou brotar novas vocações ao longo dessas seis décadas. Hoje, as flores deram um colorido especial ao mercado, que se tornou o maior entreposto de flores, do produtor direto ao consumidor final. “As pessoas madrugam para comprar flores e não apenas legumes e hortaliças”, diz Marcelo Penna, atual presidente do Cadeg, que toca o local com mão forte, alimentando maiores pretensões – com seus 70 mil metros quadrados de terreno, o Cadeg tem capacidade de construção total para até 286 mil metros quadrados.

Além de ser um dos maiores pontos de venda de bacalhau do Brasil, os empórios vieram com as bebidas e os restaurantes, numa gastronomia que também passa pelo tradicional cardápio nordestino. Confesso que já fugi da festa portuguesa para provar também um cabrito cozido no vinho, que se encontra por lá toda sexta. O local refinou sua gastronomia, fazendo com que cerca de 50 mil pessoas passem ali todos os sábados, por exemplo.
O estacionamento grande, com expansão para vagas de carregamento de veículos elétricos e o maior telhado com placas de energia solar, garante facilidade de acesso por meio das principais avenidas do Rio – a avenida Brasil fica ao lado. Por isso, o Cadeg já planeja inaugurar em outubro o Mercado da Moda, com lojas âncora transformando o mercado em um shopping, além do projeto futuro da criação de um hotel. “O visitante poderá conhecer o Rio de Janeiro tendo o Cadeg como porto de partida”, diz Marcelo.

 

Além de recomendar que você acesse o QR Code no final desta reportagem para o vídeo passar mais dessas cores e sabores, o melhor mesmo é não se ater ao que conto nesta coluna. Perder-se nos corredores do Cadeg significa garimpar opções de lazer, alimentação e compras.

No futuro próximo, com o polo de moda, o mercado de peixe e o hotel, este complexo vai fazer o Brasil elevar o conceito de Marcado Municipal. O Cadeg está ganhando cada vez mais forma para ser uma referência global. Aliás, a diretoria do Cadeg está em busca de ganhar o título de maior Mercado Municipal do mundo.

O Cadeg funciona 24 horas. Muitos comerciantes compram legumes, verduras, frutas e flores de madrugada

AO SOM DAS CONCERTINAS
A festa portuguesa foi criada pelo proprietário do Cantinho das Concertinas, Carlos Cadavez, falecido em 2022. Hoje, são a filha Natalia e o genro, João, os responsáveis por dar continuidade a esse evento, inclusive mantendo a receita original do famoso bolinho de bacalhau do restaurante.

O PARADOXO DO CADEG
Funcionar 24 horas por dia é uma característica deste mercado, que agrega circulação, mas também cuidados com segurança e deslocamento. O investimento dos empresários locais, aliado ao apoio da prefeitura e do estado com segurança e iluminação ao redor, faz o carioca enxergar, aos poucos, o Cadeg como um centro de entretenimento e não apenas como mercado. Um dos próximos investimentos tem a ver com peixes que vão além do bacalhau. O Cadeg inaugurará o Mercado do Pescado para comercializar tudo o que vem do mar “made in Rio”. Será um mercado dentro do outro.

Fábio Ramalho é jornalista e publicitário, apaixonado por viagens e comportamento carioca, com mais de 30 anos de televisão.

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