Cultura

Palácio da Cidade

Palácio da Cidade
DA DIPLOMACIA BRITÂNICA
AO PODER MUNICIPAL

Em meio à agitada rua São Clemente, encontra-se este imponente marco histórico do Rio de Janeiro. Entre com a gente por seus jardins e venha conhecer esta verdadeira obra de arte arquitetônica.

Foto: Beth Santos

 

Localizado no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, o Palácio da Cidade reúne muitas histórias e, também, muita beleza. Erguido entre 1947 e 1949 para abrigar a embaixada do Reino Unido, o palacete guarda uma trajetória curiosa até se tornar sede oficial da Prefeitura do Rio, em 1975. Atualmente, ainda é bastante utilizado pelo prefeito do Rio, não mais como sede administrativa, mas como palco de solenidades oficiais e de grandes eventos culturais.

Salão Nobre de Jantar encanta com seu valioso mobiliário e com suas obras de arte, como a tapeçaria do artista Augusto Ribeiro Degois.

DESTACAM-SE NO SALÃO NOBRE DE JANTAR UM LUSTRE COM 3 METROS DE ALTURA E 66 LÂMPADAS.

O prédio exuberante de quatro andares em estilo neoclássico, com vista para um amplo jardim, possui um valioso mobiliário compondo suas obras de arte. Destacam-se no Salão Nobre de Jantar um lustre com 3 metros de altura e 66 lâmpadas sobre a mesa oval, dois tocheiros em madeira entalhada, revestidos com folhas de ouro, atribuídos ao mestre Valentim, e uma tapeçaria com mais de 5 metros de comprimento do artista mineiro Augusto Ribeiro Degois, representando uma cena pastoral. O palácio reúne também obras dos artistas Mário Agostinelli, Glauco Rodrigues e Roberto Moriconi, além de peças raras do século XVIII. Esse contraste de estilos o refinam e o classificam como uma importante referência de valor cultural, com berço diplomático. O espaço de 60 mil m² tornou-se palco de decisões políticas que influenciaram diretamente os rumos da cidade e até mesmo do país. Ali, encontros importantes moldaram a administração municipal e a imagem do Rio.

Salão Nobre de Recepção, também ornamentado com um lustre da firma brasileira Macrif.

O Palácio da Cidade já recebeu personalidades e autoridades nacionais e internacionais, como a rainha Elizabeth II, o príncipe Philip, a princesa Diana e o príncipe Charles. Em 2013, o papa Francisco também visitou o palácio durante a Jornada Mundial da Juventude. Na ocasião, em um ato simbólico, o pontífice recebeu a chave da cidade das mãos do prefeito Eduardo Paes, abençoou as bandeiras olímpica e paralímpica e saudou a multidão que o aguardava em frente à varanda do palácio.

“O papa veio aqui nesta varanda receber a chave da cidade das mãos do prefeito. Depois, teve uma missa aqui neste gramado. Antigamente, esse espaço era aberto ao público, mas hoje, por uma questão de segurança, o palácio só recebe visitação em ocasiões específicas, por exemplo, quando a bandeira olímpica esteve aqui. Recentemente, também abrimos as portas para um bazar social promovido pela RIOinclui, com a organização da primeira-dama Cristine Paes. A renda foi revertida para a construção de moradias de pessoas com deficiência.”

Paulo Pimenta, administrador do Palácio da Cidade

 

Acima, nos jardins do Palácio da Cidade, o prefeito Eduardo Paes entrega as chaves da cidade ao Rei Momo para abrir oficialmente o carnaval.

UM PREFEITO SEM PREFEITURA?

O livro O Palácio da Cidade 1975-1979, publicado pela Prefeitura do Rio, conta a curiosa história do prefeito Marcos Tamoyo em busca de um espaço físico para trabalhar com seu secretariado. Tamoyo foi o primeiro prefeito carioca após a fusão da Guanabara com o antigo estado do Rio de Janeiro, em 1975, por nomeação do governador Floriano Faria de Lima. Vários imóveis foram cogitados, mas nenhum atendia às necessidades do prefeito – um prato cheio para as críticas da imprensa à época. O cartunista Lan, do Jornal do Brasil, publicou uma caricatura do prefeito Tamoyo despachando em um orelhão (antigo telefone público). A crônica “O prefeito caracol”, de Carlos Eduardo Novaes, dizia: “O Rio de Janeiro é, portanto, a única cidade do mundo que tem uma prefeitura itinerante”. Comovida com a situação, uma empregada doméstica chegou a escrever ao prefeito oferecendo-lhe seu apartamento conjugado no subúrbio do Rio para acomodá-lo.

Por outro lado, com a transferência da capital nacional para Brasília, em 1960, os britânicos precisavam vender o imóvel da rua São Clemente, que antes abrigava a embaixada. Com essa oportunidade, a saga do prefeito Tamoyo não durou tanto tempo. Após a fusão dos estados, o cônsul-geral da Grã Bretanha, Alan Munro, tratou de fazer a negociação com o governador. O imóvel, então, foi vendido por Cr$ 40 milhões e mais Cr$ 45 milhões em investimentos em obras de adaptação do espaço e em mobiliário. Em seu discurso de inauguração da sede da prefeitura, Marcos Tamoyo rendeu-se às brincadeiras e, com bom humor, disse: “Não foi à toa que escolheram São Sebastião como padroeiro do Rio: muita flecha e pouca roupa”.
A sede do governo municipal do Rio de Janeiro ganhou o nome de “Palácio da Cidade”, oficializado pelo decreto municipal nº 162. Em 1984, o imóvel foi tombado por sua relevância histórica e cultural. E, hoje, esse imponente bem público encontra-se preservado, mantendo a memória da administração pública e de todos os seus gestores, retratados em uma galeria de fotos. Que a chave simbólica do Rio, guardada no Palácio da Cidade, possa continuar abrindo portas para grandes oportunidades em benefício dos cariocas!

 

 

Mariana Leão é jornalista, apresentadora, repórter e editora, com passagem pelas emissoras Globo, Record, Rede TV e Band.

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