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Lipedema: a doença agora tem voz

Lipedema
A DOENÇA IGNORADA
AGORA TEM VOZ

Durante anos, ele foi confundido com obesidade ou tratado como mero problema estético. Mas, em 2025, o 1º Consenso Brasileiro de Lipedema mudou o jogo: trouxe ciência, clareza e acolhimento a milhares de mulheres que convivem com dor, limitações e preconceitos.

Descrito em 1940, o lipedema é uma condição inflamatória crônica e progressiva. Ele provoca o depósito simétrico de gordura em pernas, braços e quadris – poupando pés e mãos – e causa dor, hematomas fáceis e sensação de peso constante. Estima-se que 12% das mulheres brasileiras tenham sinais da doença, embora muitas sigam sem diagnóstico. E saiba que essa é uma questão predominantemente feminina – embora existam casos raros em homens.

Mas como o problema se desenvolve? O Consenso Brasileiro de Lipedema descreve um ciclo patológico: células de gordura se multiplicam, o tecido entra em hipóxia (redução do oxigênio), há inflamação e fibrose, além de alterações vasculares e linfáticas. O resultado é o acúmulo de gordura que não responde a dietas ou exercícios, piora em fases hormonais (puberdade, gravidez e menopausa) e compromete a mobilidade.

O seu diagnóstico é feito, sobretudo, pela observação clínica. O médico avalia se há gordura em membros (exceto nos pés e nas mãos), dor e hematomas frequentes, além de histórico familiar positivo. Exames, como ultrassom e densitometria óssea (DXA – que também avalia a composição corporal), ajudam em casos duvidosos, mas o olhar atento do especialista é decisivo.

Uma vez detectado o problema, a boa notícia é que há tratamento para o lipedema. E, quanto a isso, o Consenso Brasileiro é claro: o tratamento conservador deve ser a primeira escolha. Isso se dá por meio de drenagem linfática manual, meias de compressão sob medida, exercícios de baixo impacto, dieta anti-inflamatória e suporte psicológico. A cirurgia (como a lipoaspiração linfossuperficial) é reservada para casos avançados e sempre acompanhada de fisioterapia intensiva.

Exercícios de baixo impacto, como caminhada, ajudam a tratar o lipedema.

INOVAÇÃO E FUTURO
Tecnologias como radiofrequência, vibrolipoaspiração e protocolos integrados vêm ampliando as opções de tratamento. A telemedicina também se consolida: consultas virtuais, aplicativos de monitoramento e grupos de apoio on-line aproximam pacientes de cuidados especializados, reduzindo deslocamentos e isolamento.

Inserido na CID-11 em 2022, o lipedema só terá protocolos padronizados no Brasil em 2027. Até lá, o Consenso Brasileiro de 2025 já garante avanços ao combater o estigma, reconhecer a doença como crônica e priorizar a abordagem multidisciplinar.
O que todos precisam entender, a partir de agora, é que o lipedema não é uma questão estética. É uma doença real, complexa e inflamatória – e que finalmente ganha o reconhecimento que tantas mulheres esperavam. É, portanto, um marco para a saúde feminina.

O lipedema finalmente ganha o reconhecimento que tantas mulheres esperavam. É, portanto, um marco para a saúde feminina.

TEM DÚVIDAS SOBRE O ASSUNTO?
AS RESPOSTAS ESTÃO AQUI

Por que o lipedema passa, tantas vezes, despercebido pelas pessoas?
Isso acontece porque, por muitos anos, foi confundido com obesidade ou vaidade estética, quando, na verdade é uma condição médica.

Como diferenciar o lipedema da obesidade comum?
O lipedema tem características muito próprias: dor ao toque, tendência a hematomas, acúmulo de gordura, que não chega aos pés nem às mãos, e o fato de não responder a dietas ou exercícios. Além disso, o aspecto arredondado dos joelhos e a simetria dos membros são pistas importantes. Para completar, ao se apertar a região, a gordura do lipedema é mais semelhante a bolinhas de gude, diferentemente da gordura localizada, que é mais homogênea. Vale dizer, ainda, que na obesidade comum temos gordura envolvendo todo o corpo, enquanto no lipedema é uma gordura de distribuição irregular, atingindo membros e quadril.

Existe cura para o lipedema?
Não existe cura definitiva, mas o tratamento pode trazer enorme melhora na qualidade de vida. E quanto mais precoce ele for iniciado, melhor vai ser o resultado. O ponto de partida é sempre conservador: drenagem linfática, meias de compressão, exercícios de baixo impacto, nutrição com suplementos orais e/ou injetáveis que vão reparar a inflamação e o desbalanço gordura/massa muscular, alimentação anti-inflamatória e suporte psicológico. A cirurgia só é indicada em casos avançados, como complemento.

Tem como evitar o lipedema?
Não. Essa é uma doença genética inflamatória crônica que, dependendo do grau, pode ser observada até em crianças. Mas é importante lembrar: se o diagnóstico for precoce e o tratamento começar logo, e de forma persistente, é possível minimizar ou até fazer o lipedema “sumir” – ou seja, não mais incomodar a mulher.

O lipedema dói?
A maioria dos lipedemas dói, sim. Mas há casos sem dor, principalmente no estágio 1. Nesse estágio, é mais difícil perceber o problema, a não ser que a pessoa tenha um cansaço nas pernas ou a sensação de peso sem qualquer outra causa. Outro sinal inicial, também sem dor, é a formação de uma gordura nodular ou joelhos que perdem o seu desenho definido (ficam com um aspecto mais “inchado” ou “embotado”, como se a gordura escondesse a estrutura óssea).

Qual é o impacto desse Consenso Brasileiro de 2025 para as pacientes?
Ele muda tudo. O Consenso padroniza critérios de diagnóstico, coloca o tratamento conservador como prioridade e reconhece oficialmente o lipedema como uma doença real e crônica. Isso significa mais acolhimento, menos preconceito e protocolos claros para os profissionais da saúde.

Quais são as novidades e perspectivas futuras para o manejo do lipedema?
Temos avanços em técnicas cirúrgicas mais seguras, como a vibrolipoaspiração e o Vaser (tecnologia ultrassônica de última geração que ajuda a modelar o corpo), além do uso de tecnologias de radiofrequência para melhorar a pele. Outro ponto importante é a telemedicina, que permite acompanhamento multidisciplinar à distância, aplicativos de monitoramento de dor e até grupos de apoio on-line. O futuro aponta para um cuidado mais tecnológico e personalizado.

 

 

 

Dra. Ana Cristina Barreira é médica endocrinologista, cardiologista, geriatra e especialista em medicina integrativa. Diretora científica da Associação Brasileira de Ozonioterapia, professora e palestrante em congressos nacionais e internacionais. Membro do corpo clínico da Clinica HE Performance e diretora-médica do Instituto Ana Cristina Barreira.

Dr. João Branco é médico endocrinologista, pós-graduado em medicina desportiva e ortomolecular e perito legista. Membro do corpo clínico da clínica HE Performance. Médico responsável pelo tratamento de emagrecimento da artista Jojo Todynho.

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