Entrevista do Mês

Antonio Florencio de Queiroz JR.

ANTONIO FLORENCIO DE QUEIROZ JR.
O CONSTRUTOR DE PONTES

À frente do Sistema Fecomércio RJ, Antonio Florencio de Queiroz Junior conduz uma gestão que alia empreendedorismo, educação profissional, turismo, assistência social e sustentabilidade. Seu desafio é fortalecer o comércio e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades e qualidade de vida para os fluminenses.


Administrador de empresas e empresário com sólida trajetória institucional, Queiroz lidera um sistema que reúne o Sesc RJ, o Senac RJ, o Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ) e o Instituto Fecomércio de Sustentabilidade (IFeS). Sob seu comando, a entidade se consolidou como uma das principais vozes do setor produtivo do estado, promovendo qualificação, inclusão e modernização.

Nos últimos anos, o Sistema Fecomércio RJ ampliou sua presença social, investiu em inovação, fomentou o turismo e se tornou referência nacional em governança. Com estilo pragmático e visão de futuro, o presidente defende o diálogo entre o poder público e a iniciativa privada, o uso responsável da tecnologia e a valorização do capital humano. Nesta entrevista, ele analisa avanços, desafios e oportunidades para a economia fluminense, e explica por que vê o futuro do Rio com otimismo.

O Sistema Fecomércio RJ atua em diversas frentes. Quais áreas têm recebido prioridade?
Temos concentrado esforços em quatro frentes principais: educação profissional, turismo, assistência social e governança. A educação, por meio do Senac RJ, é o caminho mais sólido para geração de emprego e renda. No turismo, investimos porque o setor tem enorme potencial de impacto econômico e social. Com o Sesc RJ, ampliamos ações sociais e de segurança alimentar, especialmente com o Mesa Brasil. E fortalecemos nossa gestão estratégica para garantir resultados sustentáveis e de longo prazo.

Como o senhor avalia o impacto econômico e social dessas ações?
O Senac RJ supera cem mil matrículas anuais em cursos técnicos e de aperfeiçoamento. O Sesc RJ realiza milhões de atendimentos em cultura, lazer e saúde, e o Mesa Brasil distribui milhares de toneladas de alimentos a instituições sociais. Um país que é campeão mundial na produção de alimentos não pode conviver com a fome. Mas o nosso compromisso vai além da assistência: queremos oferecer uma porta de saída. As pessoas querem emprego, capacitação e dignidade, e é isso que buscamos ao integrar Sesc e Senac em projetos de formação e inclusão. Esse esforço é possível porque contamos com parceiros que compartilham esse olhar de solidariedade e responsabilidade com o futuro do país.

Como o Sistema Fecomércio RJ se integra ao conjunto nacional das entidades do comércio?
A Fecomércio RJ faz parte do Sistema Comércio, junto à Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), ao Sesc e ao Senac. Trabalhamos em sintonia: a CNC coordena a agenda nacional; a Fecomércio RJ atua no diálogo institucional e na defesa dos empresários; e o Sesc e o Senac executam as políticas sociais e educacionais. Essa estrutura é complementar e garante capilaridade, resultados concretos e presença efetiva em todo o território.

Qual é o papel da Fecomércio RJ como mediadora entre o empresariado, o governo e a sociedade civil?
Nossa missão é construir pontes. Representamos mais de 392 mil estabelecimentos, responsáveis por dois terços da atividade econômica do estado e por 61% dos empregos formais – mais de 1,8 milhão de postos de trabalho. Traduzimos as demandas do comércio em propostas viáveis e garantimos que políticas públicas beneficiem também a população. Essa articulação é essencial para gerar confiança e promover um ambiente de negócios mais equilibrado e previsível, capaz de estimular o investimento.

Quais são os maiores desafios do comércio fluminense hoje?
O maior é o custo do crédito e o ambiente de negócios ainda pouco previsível. A informalidade também preocupa: ela movimenta R$ 163 bilhões no estado, o equivalente a 10,8% da economia fluminense, e cresceu quase 20% desde 2016. Soma-se a isso o impacto do home office, que alterou o comportamento do consumidor, e o aumento do roubo de cargas – 27,6%, de janeiro a junho de 2025, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Esses fatores elevam custos e enfraquecem a competitividade. Por isso, reforçamos a importância de ações conjuntas de combate à criminalidade e à informalidade, além de políticas que incentivem o consumo e o investimento.

De que forma a tecnologia tem ajudado o comércio fluminense?
Temos atuado em três frentes: capacitação, planejamento e parcerias. O Senac RJ oferece cursos alinhados às tendências do mercado. Internamente, a Jornada Atena, da CNC, vem modernizando a gestão e o uso de dados em todo o Sistema. E o nosso Centro de Inovação – a Cápsula – prepara profissionais e empresas para um futuro cada vez mais digital e competitivo. A digitalização é essencial para modernizar processos, aumentar a produtividade e tornar os negócios mais sustentáveis.

A inteligência artificial pode ser uma aliada do comércio?
Sem dúvida. Ela é uma aliada poderosa, desde que usada com responsabilidade. Estamos estimulando o aprendizado sobre o tema dentro da Federação e nos cursos do Senac RJ. Nosso foco é capacitar gestores e empreendedores para usar a tecnologia de forma ética e eficiente, sem substituir o fator humano, essencial nas relações de consumo. A inteligência artificial já está transformando a economia, e o comércio não fica fora disso: ela ajudará cada vez mais a aumentar a produtividade, reduzir custos e aprimorar o relacionamento com o cliente.

A educação é um dos pilares da Fecomércio RJ. Como o Senac contribui para a inclusão digital e social?
O Senac RJ tem uma atuação ampla e acessível. Oferece cursos técnicos e programas gratuitos em todo o estado, com foco em inclusão digital. O objetivo é que ninguém fique para trás nessa transformação tecnológica. Temos que ofertar oportunidades iguais a todos, pois somente assim teremos uma sociedade mais justa e inclusiva. A tecnologia deve ser usada para reduzir desigualdades, não ampliá-las. Nosso foco é eliminar o abismo social que ainda separa os brasileiros e garantir que todos tenham condições reais de disputar espaço no mercado de trabalho.

O turismo também é uma das suas bandeiras. Que resultados merecem destaque?
O turismo vive um momento muito positivo. No primeiro semestre de 2025, o Rio registrou o maior crescimento do país nas atividades turísticas – alta de 14,2% em relação a 2024, segundo o IBGE. O setor movimentou R$ 10,6 bilhões, gerou quase 200 mil empregos e impulsionou R$ 13 bilhões para o PIB estadual. O Rio voltou ao centro das atenções e tem tudo para se consolidar como destino global. O turismo, hoje, é um vetor de desenvolvimento comparável à indústria do petróleo, uma vocação natural do estado que precisa ser cultivada.

Segurança pública é um tema sensível para o comércio e o turismo. A Fecomércio tem atuado nessa área?
Sim. A sensação de segurança é fundamental para o consumo e o turismo. Instalamos câmeras na orla da Zona Sul, em parceria com a Orla Rio, ABIH-RJ, SindRio e Abrasel RJ, e, em novembro, expandimos para a região da Barra, onde inauguramos a Central de Monitoramento no 31º BPM. Nossas ações são em defesa do Rio, não de governos. Segurança pública é responsabilidade de toda a sociedade. Quando as pessoas se sentem seguras, elas circulam, consomem e frequentam os espaços públicos.

O Mesa Brasil Sesc RJ é uma das maiores redes de combate à fome do país. Qual é a sua importância?
É um orgulho. Em 25 anos, o programa arrecadou mais de 35 mil toneladas de alimentos, o suficiente para encher dez Maracanãs. Além de combater a fome e o desperdício, oferece capacitação e cidadania. É um exemplo de solidariedade e eficiência que salva vidas todos os dias. Nosso objetivo é ir além do alimento: é criar caminhos para a autonomia e para a dignidade das pessoas atendidas.

O Instituto Fecomércio de Sustentabilidade tem conquistado destaque. O que ele representa?
Sustentabilidade é prática, não discurso. O IFeS criou programas como o ReVidro, que dá destinação correta às garrafas e impede o reuso ilegal de vasilhames. Já coletamos mais de 110 toneladas de resíduos, doados a cooperativas de catadores. O instituto mostra que é possível unir desenvolvimento econômico, consciência ambiental e combate à criminalidade. A Fecomércio RJ é signatária do Pacto Global da ONU e tem um comitê ASG que reafirma nosso compromisso com práticas empresariais responsáveis.

Quais são as metas da Fecomércio RJ para os próximos anos?
Consolidar o Sistema como uma instituição moderna, transparente e de impacto real na vida das pessoas. Vamos ampliar programas de qualificação, fortalecer o turismo, expandir ações sociais e aprofundar nossa presença internacional. O legado que queremos deixar é o de um Sistema que transformou potencial em resultados e oportunidades para todos os fluminenses.

Para encerrar, se o senhor tivesse em mãos a “caneta” do Executivo e pudesse assinar uma grande mudança para o Brasil, qual seria a sua principal prioridade?
Investiria em algumas frentes: educação técnica e simplificação do ambiente de negócios. A educação técnica prepara as pessoas para o futuro do trabalho. A simplificação do ambiente de trabalho atrai investimentos e gera empregos. Combinadas, essas medidas são capazes de mudar o país de forma profunda e duradoura.

Marcos Salles é jornalista e presidente da Revista Manchete

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