Nesta edição, vamos deslizar pelas ondas do mar, no universo do surfe. E o Rio de Janeiro pode ser considerado o nosso Havaí, com campeonato mundial em Saquarema, escolinha no Arpoador e grandes nomes do esporte. Confira!
Nossa primeira parada é no Maracanã do Surfe: a famosa praia de Itaúna, em Saquarema, que fica na Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro. De 21 a 29 de junho, suas areias receberam um público recorde para prestigiar a competição VIVO Rio Pro, nona etapa do Championship Tour da World Surf League (WSL). E, no mar, se lançaram os maiores surfistas do mundo.
Uma das participantes, a norte-americana Lakey Peterson, descreveu bem o clima da competição: “É incrível, o lugar é maravilhoso, tem ondas muito boas e praias maravilhosas. O Rio é, definitivamente, uma das minhas paradas favoritas no Tour. Gosto de vir aqui todo ano”. Já o surfista francês Marco Mignot estava empolgadíssimo: “Eu quero ganhar essa competição”. Mas não foi dessa vez. Na final masculina, o californiano Cole Houshmand ficou em primeiro lugar, quebrando a tradição que já vinha se mantendo há seis anos consecutivos, em que apenas surfistas brasileiros levaram o título no Tour de Saquarema. Porém, o pódio também ficou verde-amarelo, com o nosso Miguel Pupo conquistando o terceiro lugar.
Já entre as meninas, a brasileira Luana Silva alcançou um resultado histórico: participou pela primeira vez de uma final do WSL e garantiu o segundo lugar, tendo sido derrotada pela australiana Molly Picklum. Mesmo assim, para a torcida, o sabor foi de medalha de ouro, dando a ela o título de “Rainha de Saquá” – como Saquarema éA carinhosamente chamada.
Os torcedores também estavam encantados com esse evento que teve organização impecável. Ian Marchiori, gerente comercial e surfista, deu a sua opinião: “Maneiro demais. Só de estar aqui já está valendo a remada. Um evento com estrutura top demais”. E o arquiteto e surfista João Siqueira já estava pelo quarto ano seguido curtindo a competição: “Saquarema virou tradição. É uma atmosfera que a gente não encontra em nenhum lugar do Rio, em nenhuma época, só aqui. A galera toda reunida, no mesmo propósito, é o que faz a gente vir sempre”. Já a professora Leila Fontes captou bem o clima do evento: “Acho muito bacana ver os jovens aqui, essa quantidade de gente se socializando. E também ver o incentivo ao esporte”.
“É loucura! Tô sem palavras. Quando eu entrei no mar, olhei pra trás e vi a praia lotada… Nunca vivi uma coisa dessas. Então, é muito legal fazer parte de um Finals Day aqui em Saquarema. Todo mundo na torcida aqui, tá demais. Isso é um sonho.”
Luana Siva, surfista brasileira
BOM EM QUALQUER IDADE
E ser visto como um esporte, realmente, é o espírito do surfe. Já vai longe o tempo em que surfar era uma atividade marginalizada, quando pegar onda chegou a ser proibido na época da ditadura. Atualmente, além de se saber dos benefícios da prática para corpo e mente, existe até a construção de condomínios no Rio incluindo na área de lazer piscinas com ondas, que podem ser a primeira experiência de quem deseja se aventurar sobre uma prancha. Ainda assim, lugar bom mesmo para se aprender é no mar, e a praia do Arpoador, no Rio, é o point perfeito para os iniciantes.

Há 16 anos à frente da escola de surfe Team Bispo, o ex-surfista profissional Marcelo Bispo ensina pessoas de 4 a 85 anos a dar suas primeiras remadas no mar do Arpoador. “Muitas pessoas têm esse preconceito de eu não consigo, eu não posso, eu já tô velho… Mas é para todas as idades. Aqui nós criamos uma metodologia em que o aluno começa com a prancha de borracha, para não se machucar e flutuar de maneira mais fácil e com maior estabilidade. E, conforme vai melhorando, passa para pranchas com tamanhos e níveis diferentes”, explica Bispo.
As aulas têm duração de uma hora: de 10 a 15 minutos, os treinos são teóricos, na areia; o restante do tempo é no mar, sempre com a ajuda do instrutor remando lado a lado. “Primeiro a gente começa lá no cantinho da pedra, onde é mais protegido, e depois vem engrossando o caldo e trazendo para o meio”, comenta Bispo. E será que os alunos têm medo de tomar caixote? “Na parte teórica, falamos sobre segurança. Mostramos como a prancha, de amiga, pode se tornar nossa inimiga, e ensinamos o que se deve fazer para se proteger”, completa o instrutor.
E quem não tem medo algum é a médica Danielle Borghi, aluna de Bispo.

“Quando fiz 50 anos, com filho já crescido e vida estruturada, comecei a achar que eu tinha que fazer alguma coisa que movimentasse mais a minha vida. E, com o surfe, passei a viver mais o presente, porque cada onda é uma onda, não se repete. O esporte me mostrou que é preciso viver o presente intensamente, porque não se sabe o dia de amanhã.”
Danielle Borghi, médica
Saindo do mar sempre com um sorriso no rosto, a médica é só elogios à prática: “Eu voltei a sorrir! Durmo melhor, me alimento melhor, vivo melhor. A vida ganhou um propósito”.
Rico de Souza, um ícone do surfe brasileiro
RICO: PIONEIRO NO SURFE BRASILEIRO
Um dos motivos para as escolinhas de surfe serem muito procuradas atualmente talvez tenha nome e sobrenome: o paulista Gabriel Medina, nosso medalhista olímpico no esporte e o primeiro surfista brasileiro a ganhar um mundial – de lá para cá, já se sagrou tricampeão da ASP World Tour. Porém, o Rio de Janeiro também guarda seus ídolos que fizeram bonito sobre as pranchas. E um deles é Rico de Souza, considerado um dos desbravadores da modalidade no Brasil. Campeão brasileiro por cinco vezes e vice-campeão internacional por duas, foi um dos responsáveis por colocar o nosso país no mapa do surfe internacional.
Rico também se tornou um ícone brasileiro quando o assunto é fabricação de pranchas, sendo um dos shapers mais conhecidos aqui e no exterior. “Sou, talvez, um dos pioneiros na fabricação de pranchas que ainda continua fazendo. ‘Shapear’ é uma arte. E todo mundo tem que ter um hobby, né?”, comenta o veterano, chamando de hobby o ofício que já domina desde 1966 – há quase 60 anos ajudando surfistas a pegarem as melhores ondas. E ele segue firme e forte sobre elas: “Acabei de voltar do Havaí agora. Eu acho que não tem ex-surfista. Surfista é para a vida toda, até morrer”.
Se a moda do surfe pegou por aqui, é porque o esporte está cada vez mais na crista da onda. Então, que os nossos surfistas continuem sendo inspiração para essa nova geração que está chegando. E que continue com essa mesma vibe. Aloha!
>Walter Troncoso é profissional de educação física e empresário
NÃO É SÓ DIVERSÃO, É SAÚDE!
O veterano Rico de Souza, que surfa até hoje, garante que o esporte é um dos grandes responsáveis pela sua boa forma física e mental, aos 73 anos. “O surfe é uma terapia. Graças a Deus, ao surfe, à musculação, às remadas que faço e a pular corda, tento manter meu preparo físico, porque o maior patrimônio que a gente tem, além da família e dos amigos, é a saúde. Se não tem saúde, não tem nada”, conta o shaper de pranchas.
E, de fato, os especialistas já reconhecem que o surfe é uma prática que traz muitos benefícios. Entre eles, estão:
- Melhora do funcionamento cardiovascular e respiratório.
- Fortalecimento muscular, principalmente de pernas, core (abdômen, lombar e quadril) e membros superiores.
- Melhora do humor, da autoconfiança e da autoestima.
- Redução do estresse e da ansiedade.
- Aumento da densidade óssea.
- Aprimoramento do equilíbrio e da coordenação motora.