Quem nunca tentou perder peso e sentiu que estava lutando contra o próprio corpo? A verdade é que emagrecer é muito mais difícil do que parece e a ciência tem contribuído com o combate à obesidade. Mas, será que as medicações disponíveis são para todo mundo? Enquanto algumas pessoas juram que perderam peso sem esforço, outras relatam enjoos, fraqueza e sofrimento com o efeito sanfona. O que realmente está acontecendo com quem faz uso das chamadas canetas emagrecedoras? Os médicos João Branco e Ana Cristina Barreira esclarecem o processo de tratamento e os efeitos do Ozempic, Mounjaro, Wegovy e outras drogas para emagrecimento.
Para dar início ao tratamento de emagrecimento com a semaglutida, tirzepadida ou liraglutida, princípios ativos das canetas emagrecedoras, é preciso antes entender a complexidade da obesidade, indevidamente associada à preguiça. Não é uma questão de força de vontade, a obesidade é uma doença crônica, ou seja, não tem cura, mas tem tratamento e deve ser constante. A causa é atribuída a vários fatores como genética, hormônios, estresse e até hábitos imperceptíveis. E mais, a obesidade está ligada a doenças graves como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos. Então, tratar não é somente um benefício estético, é ganho de saúde.
É importante lembrar que essas medicações que viraram febre no Brasil são uma parte do tratamento, ou seja, não é milagre, o paciente deverá dar a sua parcela de contribuição. Os médicos João Branco e Ana Cristina Barreira combinam o tratamento com a indicação de uma boa alimentação, exercícios, possibilidade de outros medicamentos, suplementos vitamínicos, suplemento proteico e até hormônios, se necessário. O acompanhamento médico é fundamental para atingir um bom resultado e até mesmo para eventuais ajustes.
As canetas emagrecedoras atuam no organismo imitando substâncias naturais do nosso corpo, estimulando receptores para ativar um ou dois hormônios do intestino, que são o GLP-1 e o GIP. A semaglutida, princípio ativo do Ozempic e Wegovy, age no hormônio GLP-1, retardando o esvaziamento do estômago, aumentando a saciedade e ainda melhorando o controle do açúcar no sangue. De acordo com estudos, as pessoas perderam em média 15% do peso corporal, mas fica o alerta: podem surgir alguns efeitos colaterais, como enjoos, diarreia e até constipação.
A tirzepatida, princípio ativo do Monjaro e Zepbound é um passo à frente, porque atua em dois hormônios, GLP-1 e GIP, além de estimular outro hormônio do nosso intestino: o GIP, que melhora a resposta do nosso corpo à insulina e potencializa o efeito, levando a uma perda de até 20 a 25% de peso. Além disso, tem menos efeitos colaterais. Alguns até a chamam de ‘bariátrica em uma injeção’, pois os resultados chegam perto da cirurgia para algumas pessoas.

Os hormônios são como os maestros do nosso organismo. Eles regulam desde o apetite até o metabolismo e a forma como o corpo armazena gordura. Se algum deles estiver desequilibrado, fica muito mais difícil emagrecer, mesmo com dieta e exercícios. Temos que ter atenção aos hormônios da tireoide e o cortisol, assim como os hormônios sexuais, pois a obesidade também os desregula e vice-versa.
OUTRAS DROGAS PARA EMAGRECIMENTO
Existem mais opções de medicamentos disponíveis para o emagrecimento, mas cada um tem seus prós e contras. O médico João Branco explica o uso da fluoxetina no controle do apetite e da fome emocional. Um dos primeiros medicamentos a ser usado no emagrecimento, a fluoxetina, é um antidepressivo bem conhecido, mas que também pode ser usado como parte do tratamento da obesidade, principalmente em casos de fome emocional. Funciona aumentando os níveis de serotonina no cérebro, o que melhora o humor e ajuda a reduzir aquela vontade incontrolável de comer por ansiedade ou estresse. Porém, não é uma medicação para todos, porque pode causar efeitos colaterais, como insônia, dor de cabeça ou até perda de apetite exagerada.

Conhecida como o ‘hormônio do amor’, a ocitocina está ligada ao vínculo emocional, ao bem-estar e até à redução do estresse. Mas o que muita gente não sabe é que ela também pode ajudar no controle do peso. Isso acontece porque a ocitocina tem um efeito sobre o cérebro que reduz o apetite e melhora a sensibilidade à insulina, ajudando no controle do metabolismo. Além disso, pode reduzir o desejo por alimentos ricos em açúcar e gordura, que são comuns em casos de compulsão alimentar. João indica a ocitocina em casos específicos, como para pacientes que têm compulsão ou dificuldade em lidar com o estresse, que são fatores comuns na obesidade.
Já o Contrave é bem diferente, pois combina dois medicamentos: o bupropiona, que atua no sistema nervoso e ajuda a controlar a compulsão alimentar e o naltrexona, que reduz o prazer que a gente sente ao comer em excesso. É especialmente indicado para pessoas que lutam com a fome emocional, aquele desejo de comer por causa de ansiedade ou estresse. Ao combinar essas duas substâncias, o Contrave ajuda a reduzir o apetite e a melhorar o controle sobre o que comemos, porém pode causar efeitos colaterais. Os mais comuns são náuseas, dor de cabeça e tontura. Além disso, não é indicado para pessoas com histórico de convulsões ou hipertensão descontrolada. É essencial que todos os medicamentos para emagrecer sejam acompanhados por um médico.
A médica Ana Cristina Barreira explica como age o Venvanse no organismo. A lisdexanfetamina é usada principalmente para tratar compulsão alimentar, é o único medicamento em bula para tratar a compulsão, aquele desejo incontrolável de comer sem parar. Funciona muito bem para algumas pessoas, mas pode causar efeitos como insônia, irritação e até perda de apetite exagerada.
O Orlistate é famoso por reduzir a absorção de gordura no intestino, melhorando a resistência à insulina, o colesterol alto, a diabetes e à gordura visceral. É eficaz, mas pode causar desconfortos como diarreia gordurosa e gases, principalmente se comer comidas gordurosas.
A Sibutramina aumenta a sensação de saciedade e a queima de calorias, porém tem contraindicações, especialmente para quem tem problemas cardíacos.
A Empagliflozina é um medicamento originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2. Ajuda a eliminar o excesso de glicose pela urina e descobriu-se que também pode auxiliar no emagrecimento. Quando você perde glicose pela urina, isso reduz o número de calorias que seu corpo absorve. Além disso, pode melhorar a sensibilidade à insulina, o que ajuda a evitar o acúmulo de gordura.
Essa medicação é indicada principalmente para pacientes com obesidade que estejam com a resistência à insulina alta, pois isso dificulta o emagrecimento. Entretanto, Ana Cristina faz um alerta sobre os efeitos colaterais: “pode causar infecções urinárias, porque aumenta a quantidade de açúcar na urina. Então, o uso precisa ser bem monitorado principalmente em mulheres. Após urinar, faça uma higienização com lenço umedecido ou água”, orienta a médica.
Cirurgia Bariátrica é coisa do passado? “Não, absolutamente”. João diz que é uma opção poderosa para casos graves. A cirurgia bariátrica muda a vida de muita gente. O lado ruim é que exige um compromisso para o resto da vida com suplementos e alimentação regrada. Ou seja, não é mágica, também precisa de esforço.
EMAGREÇA DE FORMA SAUDÁVEL
Para o médico João Branco, desintoxicar, desinflamar e cuidar do estresse oxidativo são protocolos cruciais na luta contra o sobrepeso. “Quando falamos de obesidade, não estamos lidando apenas com gordura acumulada. O corpo de uma pessoa com obesidade está, muitas vezes, sobrecarregado. Ele sofre com inflamação crônica, excesso de toxinas acumuladas, pois a célula gordurosa é o maior reservatório do lixo do nosso corpo e um desequilíbrio no sistema oxidativo, o famoso estresse oxidativo.” O médico alerta que esses fatores não só dificultam a perda de peso, como também aumentam o risco de outras doenças, como diabetes e hipertensão. Por isso, ele inclui no tratamento antioxidantes, como vitamina C, vitamina E, selênio entre outros.
A médica Ana Cristina Barreira compara a desintoxicação no processo de emagrecimento ao ato de acender uma fogueira: “se a lenha está molhada, vai ser muito mais difícil. Primeiro, você seca a lenha – ou seja, desintoxica e desinflama – e aí, sim, as estratégias de emagrecimento começam a funcionar melhor. Quando desintoxicamos, desinflamamos e reduzimos o estresse oxidativo, estamos literalmente desbloqueando o corpo.”
COMECE COM PEQUENAS MUDANÇAS:
Beba mais água para ajudar o corpo a eliminar toxinas.
Inclua alimentos naturais, como vegetais, frutas e sementes.
Evite o excesso de sal, açúcar e alimentos ultraprocessados.
Sob a orientação de um médico, pode ser usado suplementos antioxidantes e anti-inflamatórios.
DISBIOSE INTESTINAL E EMAGRECIMENTO
Você sabia que o intestino é conhecido como nosso segundo cérebro?
O cuidado com o intestino é um dos pilares fundamentais no tratamento da obesidade. É lá que estão bilhões de bactérias que formam o microbioma intestinal, um ecossistema essencial para a saúde do corpo inteiro. Essas bactérias desempenham papéis importantes, como:
Regular o sistema imunológico.
Produzir vitaminas, como B12 e K.
Controlar o apetite e o metabolismo.
Ajudar na digestão e absorção de nutrientes
Na obesidade, a disbiose é muito comum. Estudos mostram que pessoas com obesidade tendem a ter menos diversidade de bactérias no intestino e um aumento de bactérias que favorecem a absorção excessiva de calorias. Isso cria um círculo vicioso: o desequilíbrio do intestino favorece o ganho de peso e esse excesso piora ainda mais o problema. A disbiose ocorre quando há um desequilíbrio no microbioma intestinal. Em vez de termos mais bactérias boas, que ajudam o corpo, temos uma proliferação de bactérias ruins, que causam inflamação e outros problemas. Além disso, a disbiose aumenta a inflamação no corpo, libera substâncias que afetam o metabolismo e até interfere na produção de hormônios relacionados à saciedade, como a grelina e o GLP-1. Ou seja, fica muito mais difícil emagrecer.
Para restaurar o equilíbrio do intestino, os médicos desta coluna usam uma abordagem em quatro passos:
1. remover: Eliminar alimentos ultraprocessados, açúcares refinados e substâncias que alimentam as bactérias ruins.
2. repor: Adicionar probióticos, que são bactérias boas, e prebióticos, que são fibras que alimentam essas bactérias boas.
3. reparar: Suplementar com nutrientes como glutamina e zinco, que ajudam a regenerar a mucosa intestinal.
4. reequilibrar: Incentivar um estilo de vida saudável, incluindo hidratação adequada, controle do estresse e uma dieta rica em alimentos integrais
COMPULSÃO ALIMENTAR, ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL E PSICOLÓGICO
A compulsão alimentar é quando a pessoa sente uma necessidade incontrolável de comer grandes quantidades de comida, geralmente em um curto período, mesmo sem fome. Isso vem acompanhado de culpa e frustração. É mais comum na obesidade do que imaginamos e pode ter origem em fatores emocionais, como ansiedade ou depressão, ou até fisiológicos, como alterações hormonais. Por isso, o acompanhamento psicológico é fundamental. Esse acompanhamento para determinadas pessoas é tão importante quanto a parte física, pois ajuda a identificar gatilhos e a trabalhar estratégias para controlar esse comportamento.
BASE DO TRATAMENTO: PRESERVAR MÚSCULOS E SAÚDE
Emagrecer não é só perder peso na balança. O objetivo é se livrar da gordura preservando os músculos e, assim, manter o metabolismo acelerado. Por isso, é indicada uma dieta rica em proteínas, exercícios de força, com a possibilidade de incluir suplementos, dependendo do organismo. João recomenda aos seus pacientes principalmente a musculação e faz um cálculo de suplementação de pro teína de acordo com cada pessoa, que pode ser em forma de Whey ou alimentos. “Assim, o corpo queima gordura e não músculo. Exercícios aeróbicos ajudam a queimar gordura, mas musculação é essencial para reservar a massa muscular. É a combinação dos dois que dá os melhores resultados. Emagrecer é só a primeira etapa desse processo que se chama vida saudável.”
DISBIOSE INTESTINAL E EMAGRECIMENTO
Como a obesidade é crônica, o cuidado nunca acaba completamente. Depois de atingir o peso ideal, o paciente deve manter hábitos saudáveis. Mas, se em algum momento, perceber que está ganhando peso de novo, o ideal é retomar o tratamento rapidamente. É como ajustar as velas de um barco. Se o vento mudar, o correto é corrigir a direção antes que se desvie demais. E isso pode significar voltar com a medicação por um tempo. Todo esse planejamento envolve um estudo detalhado do organismo de cada indivíduo, não há fórmulas prontas, portanto, para ter um processo saudável de emagrecimento, é fundamental que o paciente busque orientação de médicos especialistas.
OZEMPIC É UM MEDICAMENTO SEGURO PARA PERDA DE PESO
Ozempic é um medicamento aprovado pela FDA no tratamento do diabetes tipo 2
É capaz de estimular a produção de insulina e ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue
Portanto, também é considerado benéfico para perda de peso
Ozempic mostrou potencial para causar tumores e até câncer de tireoide
Ozempic pode causar prisão de ventre, náuseas e vômitos
Ozempic não deve ser tomado sem recomendação e orientação médica
Dra. Ana Cristina Barreira é médica endocrinologista, cardiologista, geriatra, especialista em medicina ortomolecular, diretora científica da Associação Brasileira de Ozonioterapia, professora e palestrante em congressos nacionais e internacionais. Diretora do Espaço Ana Cristina Barreira Medicina Integrativa Clínica.
Dr. João Branco é médico endocrinologista, pós-graduado em medicina desportiva e ortomolecular e perito legista. Membro do corpo clínico da clínica HE Performance. Médico responsável pelo tratamento de emagrecimento da artista Jojo Todynho.