Vitaminas e Minerais
BENEFÍCIOS E RISCOS DA REPOSIÇÃO
Sensação de esgotamento, falta de foco, imunidade baixa. Coincidência ou sinal de desequilíbrio silencioso? Mesmo com uma dieta equilibrada, o corpo pode não absorver o que precisa. Deficiências sutis de vitaminas e minerais podem comprometer funções essenciais – da cognição à saúde cardiovascular. Mas suplementar sem critério pode trazer riscos. Nesta edição, revelamos as descobertas da ciência sobre esse tema e as circunstâncias em que a reposição se torna uma aliada ou um erro disfarçado de cuidado.
Reposição inteligente é como uma orquestra: exige harmonia, precisão e propósito. Não adianta apenas engolir um comprimido. Vivemos uma era de abundância alimentar, mas de carência nutricional. Comemos muito e absorvemos pouco. Alimentos processados, solos empobrecidos e excesso de contaminantes, como agrotóxicos, comprometem até mesmo dietas aparentemente equilibradas. Somado a isso, o estresse crônico reduz a acidez gástrica – condição chamada de hipocloridria –, prejudicando a absorção intestinal de micronutrientes essenciais. O resultado? Uma geração inflamada, cansada e sem respostas. Entender o papel das vitaminas e dos minerais é essencial para recuperar o equilíbrio, otimizar funções vitais e prevenir doenças silenciosas.
.Vitamina A: Importante para a visão, imunidade e saúde da pele.
Sua deficiência pode causar cegueira noturna e maior suscetibilidade
a infecções.
.Vitaminas do complexo B (como B12 e ácido fólico): Importantes para a produção de energia e função cognitiva. Sua deficiência pode causar fadiga e dificuldade de concentração.
.Vitamina C: Essencial para o sistema imunológico. Sua deficiência pode aumentar a incidência de infecções respiratórias.
.Vitamina D: Crucial para a saúde óssea e imunológica. Sua falta está associada ao maior risco de doenças autoimunes e a alguns tipos de câncer.
.Vitamina E: Atua como antioxidante, protegendo as células contra danos. Sua falta pode levar a problemas neuromusculares.
.Vitamina K: Essencial para a coagulação do sangue e a saúde óssea.
A deficiência pode causar sangramentos excessivos.
.Cálcio: Essencial para a saúde óssea. Sua falta pode aumentar o risco de osteoporose.
.Ferro: Mineral importantíssimo inserido nas células que transportam o oxigênio do nosso corpo, a hemoglobina. Sua deficiência pode levar à anemia, causando fraqueza e falta de energia.
.Iodo: Fundamental para a função da tireoide e o desenvolvimento cognitivo.
.Magnésio: Essencial para a função muscular e nervosa, além de ajudar na regulação da pressão arterial.
.Zinco: Importante para o sistema imunológico e para a cicatrização de feridas.
Olá, pele jovem! Estética e saúde em dia
Um mito sobre a vitamina C é a sobrecarga nos rins. Podemos tomar diariamente, mas sob prescrição. Sua reposição é importante para aumentar a imunidade, participar da formação do colágeno, combater o envelhecimento celular e modular processos inflamatórios. Com sua deficiência, a pessoa pode adoecer, ter má cicatrização, gengivas sangrando e pele opaca. A vitamina C não é marketing para gripe. Ela é considerada a rainha na nutrição, mas não podemos esquecer também a importância do zinco, cobre, eanxofre e magnésio e de alguns aminoácidos, como glicina, lisina, prolina e silício orgânico.
A vitamina D, conhecida como a vitamina do sol, é um nutriente essencial para a saúde – ela é considerada uma “hormovitamina”. Atua no cérebro, nos ossos, na imunidade e até na regulação hormonal. A deficiência é epidêmica, mesmo em países ensolarados como o Brasil. O uso diário de protetor, mesmo com proteção baixa, impede a conversão dos precursores de vitamina D em pró-vitamina. O excesso de melanina (pessoas que tomam muito sol) age como um protetor solar. Da mesma forma, a idade avançada e a obesidade também atrapalham as funções de certos medicamentos, como estatinas, corticoides e anticonvulsivantes, podendo interferir no metabolismo hepático ou renal, causando a deficiência de absorção. O que poucos sabem é que em ambientes poluídos, mesmo que tenha sol, a produção de vitamina D é prejudicada. Por todos esses fatores, a suplementação em casos de deficiência deve ser prescrita por um médico, principalmente a idosos.
Queda de cabelo, pele seca, unhas fracas, exaustão, memória ruim… Podem ser sintomas da deficiência de B12, mas a causa também pode estar na falta de ferro e zinco. Situação que pode piorar no estágio de pós-bariátrica, no veganismo e quando há sangramento menstrual intenso e doenças autoimunes. Às vezes, os exames nem acusam anemia, mas podemos ter uma ferritina abaixo do ideal. A B12, a B6 e o ácido fólico em formas ativas (metiladas) são essenciais para o metabolismo celular, a produção de neurotransmissores e a saúde mental. A deficiência dessas vitaminas aumenta a homocisteína, que é inflamatória para os vasos. Quem tem mutações genéticas, como MTHFR, por exemplo, não consegue ativar essas vitaminas. Resultado? Ansiedade, fadiga crônica, queda de cabelo e até infertilidade.
O cálcio sempre foi o protagonista quando falamos em saúde óssea, mas talvez esteja na hora de revermos esse roteiro. Embora sua importância na formação e manutenção dos ossos seja indiscutível, esse mineral não atua sozinho. A deficiência de cofatores essenciais, como vitamina D, vitamina K2, magnésio e até boro, é frequentemente a verdadeira causa por trás de quadros de osteopenia e osteoporose. Sem esses elementos, o cálcio pode se perder no caminho ou, pior, depositar-se onde não deve, como nas artérias, provocando a calcificação vascular. Por isso, a suplementação deve ser individualizada e realizada sob orientação médica, especialmente na prevenção e no tratamento de doenças, como osteoporose, osteomalácia e raquitismo. No fim das contas, não é apenas sobre consumir cálcio, e sim fazê-lo chegar ao lugar certo.
O lugol é uma solução concentrada de iodo e iodeto de potássio, usada principalmente para tratar problemas da tireoide, como hipotireoidismo, ou como antisséptico tópico. O lugol e o iodo ainda dividem opiniões sobre a reposição. O iodo é essencial para a tireoide, memória e até fertilidade. Mas a dose é individual e, muitas vezes, a contaminação do organismo pelo flúor ou alumínio impede que o iodo que já existe no seu corpo entre nos receptores da tireoide, impossibilitando seu funcionamento correto. A moda do lugol criou exageros, cuidado! O excesso pode ser tão prejudicial quanto a falta. A dose deve ser cuidadosamente ajustada com precisão para evitar riscos à saúde.
A vitamina A, também conhecida como retinol, é um micronutriente essencial para o bom funcionamento do corpo. Seu uso não é recomendado apenas com a finalidade de ter uma pele bonita; também serve para proteger a visão, reforçar a imunidade e a saúde das mucosas. Desempenha papel fundamental na produção de pigmentos na retina, que são importantes para a visão em condições de pouca luz. Mulheres com candidíase recorrente ou baixa resistência costumam ter deficiência. Estética é só a ponta do iceberg.
A vitamina E é o escudo antioxidante das nossas células. Protege o cérebro e o coração, além de ajudar na fertilidade. Também é uma protetora das células contra lesões causadas pelos radicais livres, com ações anti-inflamatórias que ajudam a melhorar o sistema imune, a pele e o cabelo, assim como previne doenças como aterosclerose e Alzheimer. Quem tem gordura abdominal crônica, por exemplo, consome mais radicais livres e precisa ainda mais da vitamina E.
A vitamina K vai muito além da coagulação do sangue. Na sua forma de K2, ajuda a evitar a calcificação arterial e ativa proteínas que fixam o cálcio nos ossos, sendo especialmente crucial para a longevidade. Poucos médicos ainda pedem esse marcador, mas deveriam. A vitamina K é encontrada em alimentos de origem vegetal, principalmente em folhas verde-escuras.
O magnésio é realmente o mineral do século. Participa de mais de 300 reações bioquímicas. Está ligado ao humor, ao sono, à TPM, à pressão arterial e à sensibilidade à insulina. Uma pessoa irritada, com câimbras ou intestino preso pode estar só com falta de magnésio! Temos que lembrar que o magnésio é o mineral que mais é retirado do nosso corpo, e um das principais causas disso é o estresse.
O zinco está relacionado à imunidade e à beleza. É o arquiteto da pele e da defesa. Sem zinco, o colágeno desmorona, as unhas lascam e a pele enruga. Além disso, ele é antiviral. Crianças que vivem doentes e adultos com baixa libido muitas vezes têm deficiência de zinco e nem sabem. Esse mineral também é importante para a tireoide e a imunidade.
SAÚDE NÃO É AUSÊNCIA DE DOENÇA
Queremos chamar a atenção para muitos casos de pacientes que tomam antidepressivos há muitos anos, inclusive com doses progressivas, desencadeando efeitos colaterais sem apresentar melhora no quadro clínico. É importante que seja avaliado o fator nutricional paralelamente, pois a fisiologia humana necessita desses componentes estruturais, associando vitaminas e oligoelementos para o bom funcionamento do aorganismo. A suplementação é uma grande aliada no combate às doenças crônicas, além de fornecer energia para o corpo e melhorar o sistema imunológico.
Em outras situações, como gravidez, amamentação, recuperação pós-cirúrgica e restrições alimentares, a reposição de vitaminas e minerais pode ser essencial para garantir saúde e bem-estar. Nas farmácias, há muitas prateleiras repletas de frascos de vitaminas, muitas inclusive já com fórmula pronta de complexos, mas, cuidado, a automedicação pode trazer riscos à saúde.
A RELAÇÃO DA BARIÁTRICA COM VITAMINAS E MINERAIS
Vitaminas e minerais são importantíssimos no processo após a cirurgia bariátrica. O verdadeiro tratamento começa na correção das deficiências silenciosas, transformando as estatísticas. Hoje, de 50% a 80% das pessoas têm reganho de peso após dois a cinco anos de cirurgia. A bariátrica é uma ferramenta poderosa, mas exige um plano de suporte contínuo, com foco em nutrição funcional, modulação hormonal, suporte psicológico e estímulo à massa magra. E temos que lembrar que, dentro das cirurgias bariátricas mais comuns, principalmente as com função metabólica, ocorre uma disabsorção importante, pois o paciente perde uma parte do seu corpo que é fundamental para absorver o que come. Isso vai gerar uma deficiência nutricional importante que só vai ser regulada com suplementação injetável, mesmo na cirurgia menos agressiva que preserva o intestino, mas perde 2/3 do estômago, o que acarreta uma hipocloridria, diminuindo e muito a absorção dos nutrientes por via oral.
VITAMINAS E SAIS MINERAIS DE USO EXTERNO
Se você tem dúvidas se funcionam, a resposta é sim, auxiliando de forma complementar. Existem vitaminas que não precisam ser injetáveis, nem ingeridas em forma de comprimidos e cápsulas. Temos, por exemplo, na indústria de cosméticos, as ampolas com finalidade de nutrição da fibra capilar. Os componentes protagonistas são: biotina – grande aliada na formação dos folículos capilares, dando força aos fios –, riboflavina, B3, B5, B12 e ácido fólico, além da vitamina D e do retinol. O cabelo passa por três fases essenciais em seu ciclo de vida. A primeira é a anágena, que é o período em que cresce e a fibra recebe constantes doses de vitaminas e sais minerais importantes parar a saúde e força. As próximas etapas são a catágena e a telógena, que necessitam de nutrientes favoráveis para manter o ciclo sem enfraquecimento, evitando a queda. Regeneração e hidratação são as melhores aliadas para a qualidade dos fios, assim como a nutrição é ideal para a multiplicação celular. É importante entender qual a necessidade do cabelo para montar um tratamento eficaz, que consiga repor nutrientes importantes e manter o ciclo de vida capilar saudável.
SUPLEMENTAÇÃO PARA 60 +
A atenção com a suplementação da pessoa idosa deve ser primordial. O intestino nessa fase está sob alerta, como um pneu careca que rodou muitos anos e pode apresentar falhas na absorção de nutrientes. Para reparar esse desgaste, recomendamos um combo, mas que deve ser dosado individualmente, contendo: a campeã vitamina D, com sua ação imunomoduladora; o zinco, por ser essencial para a maturação de células de defesa, como os linfócitos T e cels NK; a vitamina C, que aumenta a produção de interferon, essencial no combate a vírus; a B12, pela queda drástica depois dos 60 anos e por ser essencial para manter o sistema imune; e o magnésio, que ajuda no controle do cortisol, pois, quando alterado, desregula o sistema imune.
Mesmo sem alterações aparentes nos exames, o uso estratégico de algumas vitaminas e minerais pode otimizar a saúde, prevenir doenças e melhorar o funcionamento metabólico.
E detalhe: exames de rotina, muitas vezes, não detectam deficiências funcionais, aquelas que já estão afetando o bem-estar, mas ainda não geraram uma alteração laboratorial “fora da curva”. Além do mais, o sangue não é o melhor meio para determinarmos a deficiência de minerais, Então, podemos subdiagnosticar uma deficiência de magnésio, que é muito comum em nosso dia a dia estressante e perigoso, no qual geramos muita adrenalina.
Dra. Ana Cristina Barreira é médica endocrinologista, cardiologista, geriatra, especialista em medicina ortomolecular, diretora científica da Associação Brasileira de Ozonioterapia, professora e palestrante em congressos nacionais e internacionais. Diretora do Espaço Ana Cristina Barreira Medicina Integrativa Clínica.
Dr. João Branco é médico endocrinologista, pós-graduado em medicina desportiva e ortomolecular e perito legista. Membro do corpo clínico da clínica HE Performance. Médico responsável pelo tratamento de emagrecimento da artista Jojo Todynho.