Descortinamos o palco que já recebeu os maiores artistas do mundo em espetáculos de dança, música, ópera e artes cênicas. Apresentamos em detalhes o exuberante Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que, com seus 115 anos, preserva valiosas obras de arte, conta com uma programação diversificada e hoje é considerado um espaço mais democrático.
Na Cinelândia, Centro do Rio, está localizado o prédio do Theatro Municipal, impactante por sua arte eclética em estilos clássico, barroco, art nouveau e Luís XV, cravejado por magníficos vitrais alemães e com uma águia dourada na cúpula, pesando 350 kg, com 8 mil folhas de ouro de 23 quilates.Sua fachada, com seis imponentes colunas de mármore, elevam o olhar do público ao encontro das musas da poesia, da música, do canto, da dança, da comédia e da tragédia.


O prédio foi inaugurado em 14 de julho de 1909, quatro anos e meio após o início das obras. Os arquitetos Francisco de Oliveira Passos, filho do prefeito Pereira Passos, e o arquiteto francês Albert Guilbert venceram o concurso e projetaram o teatro. A proposta de Guilbert teve inspiração na Ópera Garnier, a Ópera de Paris, do século XVII. Adornos da sala de espetáculos, fachada e áreas de circulação foram criados pelos mais importantes pintores e escultores da época, como Rodolpho Amoedo, os irmãos Bernardelli e o impressionista Eliseu Visconti. Também foram recrutados artesãos europeus para a produção dos vitrais e mosaicos. Desde a sua inauguração, o teatro passou por quatro grandes reformas (1934, 1975, 1996 e 2008) e permanece bem conservado, preservando a beleza das obras originais.

Em entrevista à Revista Manchete, a historiadora e presidente do Theatro Municipal do Rio, Clara Paulino, conta que venceu o desafio de aumentar a frequência do público ao teatro quando passou a oferecer apresentações gratuitas e visitas guiadas com propostas educativas. Além disso, difunde o conhecimento cultural com exposições itinerantes e o Projeto Escola, que alcança 1.800 alunos da rede pública de diferentes municípios. Nessa proposta, o material é enviado ao professor com dois meses de antecedência para que o conteúdo possa ser trabalhado em sala de aula.
“Quando eles vêm aqui, já conhecem a história do espetáculo, do compositor e do teatro, compreendendo melhor as informações. Quando saem, ainda levam uma cartilha educativa para falarem sobre o que aprenderam em casa”, explica Clara.

A escadaria do teatro é o lugar preferido para aquela foto de recordação, justamente onde acontece, todas as terças-feiras, o projeto Ópera ao Meio Dia, uma apresentação gratuita de grandes títulos de óperas encenados pelos corpos artísticos do Theatro Municipal. Cada canto do teatro é um lindo cenário para apresentações culturais. O Boulevard de Portas Abertas é outro projeto de música, programado para as quartas-feiras, a partir das 17 horas, na lateral do prédio, na avenida Treze de Maio.
O calendário deste ano conta com as apresentações oficiais e com os espetáculos de permissionários, como o balé A Floresta Amazônica e a opereta Viúva Alegre, exibidos recentemente. No mês de maio, entrou em cartaz o balé O Lago dos Cisnes. Em junho, as portas do teatro se abrem ao concerto Música Brasileira em Foco e, em julho, será o mês da ópera, contando com uma programação especial para comemorar o aniversário do teatro.
Com mais de um século de história e tradição, o Theatro Municipal conta com um centro de documentação, o Cedoc, responsável pela guarda e catalogação de um acervo de cerca de 70 mil peças, documentos e registros históricos. Além da responsabilidade cultural, a fundação atua na formação de profissionais com a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, uma das mais tradicionais companhias de balé do Brasil.
A EXUBERÂNCIA DA SALA DE ESPETÁCULOS
Quem entra pela primeira vez não se esquece do sentimento de admiração por tamanha conjuntura artística. Com 2.212 assentos, a sala de espetáculos é dividida em quatro andares: plateia, balcão nobre, balcão superior e galeria. Raros são os momentos em que pode ser visto o pano de boca de 192 m2, intitulado A influência das artes sobre a civilização. Essa relíquia é considerada uma das cinco maiores telas do mundo, pintada por Eliseu Visconti, em Paris, em 1907. O artista brasileiro também executou os trabalhos de decoração do teto e do friso do proscênio.
Outra peça de grande valor é o lustre central da sala, com 118 lâmpadas, ornado com vidros ingleses e cristais belgas. Para maior preservação, ele passa por um ritual de descida apenas duas vezes ao ano, momento em que é realizada a manutenção e troca das lâmpadas.

São mais de 30 mil visitantes por mês, com a oferta de projetos, visitas guiadas e apresentações. O Theatro Municipal conta com seu próprio corpo artístico, composto por orquestra sinfônica, coro e balé.
MÚSICA NO ASSYRIO
No subsolo do teatro está o Salão Assyrio, um lugar repleto de história. Já foi cabaré, palco de grandes bailes de máscaras, abrigou um restaurante frequentado pela alta sociedade carioca e recebeu apresentações do grupo Os Oito Batutas, com o mestre Pixinguinha.

Atualmente, esse espaço é destinado a visitas guiadas e ao projeto Música no Assyrio, que oferece temporadas de concertos quinzenais aos domingos. Um lugar repleto de arte, com frisos, luminárias e estátuas inspiradas na antiga cidade de Persépolis e na cultura babilônica. O salão possui colunas que terminam com cabeças de touro, em estilo assírio. As portas trazem molduras de pedra gravada com margaridas, a flor sagrada da antiga Mesopotâmia. A decoração recebe os imponentes frisos dos leões, dos seres alados babilônicos e dos arqueiros da sala do trono de Dario I.
É possível conhecer as dependências do teatro, incluindo os bastidores, com uma explicação imersiva pela história da arte, bem como agendar a “visitas brincadas”, ou, ainda, a “visita game”, dedicada ao público jovem. Basta entrar no site oficial do Theatro Municipal e conferir o cronograma regular.
As visitas guiadas ao Theatro Municipal podem ser agendadas pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (21) 2332-9227.
Mariana Leão é jornalista, apresentadora, repórter e editora, com passagem pelas emissoras Globo, Record, Rede TV e Band.