Moda

Ser Sustentável é a nova MODA

SER SUSTENTAVEL É A NOVA MODA

Você sabia que a indústria da moda é a segunda maior poluidora do meio ambiente, perdendo apenas para a indústria petrolífera? É sério! Mas a solução já existe: é a moda sustentável, que ganha cada vez mais espaço nas lojas e passarelas.

Fotos: Márcio Mercante

Os dados são impactantes: para produzir uma simples camiseta de algodão, são consumidos cerca de 2.700 litros de água; processos de tingimento e acabamento dos tecidos geram resíduos têxteis que acabam em aterros sanitários ou são incinerados, contribuindo para o efeito estufa; e a chamada fast fashion – aquela que produz roupas em massa, com baixo custo – leva ao aumento do descarte no meio ambiente. Há pouco mais de 25 anos, contudo, alguns nomes da moda começaram os primeiros movimentos para mudar esse cenário.

Aqui, o tecido feito de juta. Utilizado em algumas peças pela Osklen, é uma fibra natural biodegradável, com baixo impacto ambiental e que tende a durar muito.

Em 1998, a Osklen se tornou pioneira em moda sustentável, ao iniciar o primeiro projeto para a criação de um algodão orgânico. No ano seguinte, lançava a primeira t-shirt feita com cânhamo, uma fibra resistente que não usa produtos químicos em sua produção. Isso trouxe consequências muito positivas ao meio ambiente: foram poupados 13,7 milhões de litros de água e reduzidos 8,3 mil quilos de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e 354,1 quilos de pesticidas.

De lá para cá, a grife criada por Oskar Metsavath joga os holofotes para a causa do consumo consciente. O seu algodão reciclável, por exemplo, reaproveita resíduos da indústria têxtil: os retalhos são separados por cores e transformados em um novo tecido, sem qualquer tingimento, reduzindo o consumo de água e o uso de produtos químicos. Em 2023, em comparação ao algodão tradicional, isso representou a economia de 123,6 milhões de litros de água e de 515 mil KWz de energia, além de ter poupado 86, 5 mil m2 de terra e reduzido a emissão de 44,5 toneladas de GEE – um grande salto se pensarmos nos primeiros dados positivos de 1999.

Em suas confecções, a Osklen também tem apostado na juta, uma fibra natural e biodegradável, cujo cultivo tem baixo impacto ambiental, já que exige pouco consumo de água e dispensa o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Com aspecto rústico, imprime autenticidade e resistência às peças, que são feitas para durar por muito tempo.
E, agora, imagine um peixe se tornando matéria-prima para a moda! Esse é mais um pioneirismo da Osklen, que, em 2008, deu início ao projeto Pirarucu, que conta com certificado e autorização do Ibama. A pele desse peixe, que costuma ser descartada após o consumo, foi reaproveitada e ressignificada, dando vida à bolsa Pirarucu e a outros acessórios da marca, que logo se tornaram um ícone do novo luxo. E mais: a linha inovadora alcançou destaque internacional e o prêmio The Green Carpet Challenge Award, na Semana de Moda de Paris, em 2019.

Em 2020, a pele do pirarucu se uniu à lona reciclada, ao couro bovino certificado, ao látex natural da Amazônia e ao reaproveitamento de aparas de borracha, cortiça e palha de arroz para levar aos pés dos consumidores um tênis inteiramente sustentável – incluindo a palmilha feita de EVA de cana-de-açúcar. Essa conquista foi o resultado da combinação das melhores práticas socioambientais da marca, em mais de 20 anos que vem se dedicando à sustentabilidade.

CONSUMO CONSCIENTE PARA TREINAR
Os esforços da Osklen geraram frutos, inclusive para as grandes marcas da moda fitness. Há 30 anos no mercado, a Bro Fitwear sempre teve essa preocupação com a sustentabilidade aliada à qualidade e ao bem-estar. Elisa Cerallo, designer de moda da marca, explica que os tecidos utilizados têm a certificação internacional Oeko-Tex, a qual assegura que produtos têxteis são livres de substâncias nocivas ao meio ambiente.

As roupas fitness da Bro Fitwear são livres de substâncias nocivas ao meio ambiente e, se descartadas em aterro sanitário, se biodegradam em três a dez anos

“Todos os nossos tecidos, se descartados em aterro sanitário, se biodegradam em três a dez anos. Essa é uma demanda não só das consumidoras do mundo fitness, mas também da gente como marca.”

Elisa Cerallo, designer de moda da Bro Fitwear

Ela completa dizendo que o tecido que usam se chama Emana, e que as roupas feitas com ele são recomendadas, inclusive, para as pessoas viajarem e trabalharem. “Você pode pegar uma peça nossa e conseguir usar em sua rotina. Se aquecido, esse tecido especial ajuda na circulação e a prevenir celulites. A gente confia muito que são peças que vão acompanhar o consumidor por muito tempo”, explica a designer de moda.

Bolsas e tênis da Osklen feitos com o reaproveitamento da pele do piraracu se tornaram ícones do novo luxo na moda.

Mas, na Bro, a sustentabilidade não está só nas roupas. Toda a fábrica conta com recursos focados na preservação do meio ambiente “Se nós já tínhamos um selo mostrando que nossos tecidos eram sustentáveis, por que não ter uma estrutura assim também? Essa nossa preocupação foi surgindo naturalmente com a demanda do mercado”, conta Ambrosina Alencar, fundadora da marca. Além dos tecidos biodegradáveis, a fábrica utiliza tingimento ecológico, que não polui, e possui duas cisternas de 40 mil litros que captam a água da chuva, que é usada nas descargas, na limpeza e na jardinagem. Também há painéis solares que, no inverno, quando não há tanta demanda pelo ar-condicionado, suprem 100% da energia necessária.
E, afinal, será que todos esses cuidados recaem no valor dos produtos, deixando-os mais caros em relação aos outros fabricantes?

“Em geral, as peças de tecido sustentáveis são um pouco mais caras. Se você está querendo ter uma roupa nova a qualquer custo, não vai se preocupar com isso. Mas, em geral, quem tem um poder aquisitivo maior entende que pode consumir um produto que tem valor agregado. E essa pessoa vai ser mais exigente e mais consciente do nosso impacto no planeta Terra.”

Ambrosina Alencar, fundadora da Bro Fitwear

Ambrosina destaca que é preciso começar a pensar em qual planeta queremos deixar para as futuras gerações. E conclui com um recado aos leitores da Revista Manchete: “Se todo o mundo está a cada dia mais preocupado com a sustentabilidade, a indústria da moda também está. Então, pense nisso antes de comprar a sua próxima peça. Procure quem realmente trabalha com produto sustentável”.

Monica Hesketh é presidente da Comissão de Direito da Moda da OAB/RJ. É formada em moda e tem especialização em consultoria de imagem.

 

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