Jardim de Alah
ENCANTO DO RIO DE CARA NOVA
Localizado entre Ipanema e Leblon, o tradicional parque tombado pelo município vai ganhar vida nova por meio de um grande projeto de revitalização, que, conduzido pelo Consórcio Rio + Verde, promete aumentar a área verde local, oferecer opções de lazer e desenvolver ações sociais para a população. O investimento estimado é de R$ 160 milhões e as obras já começaram.
Fotos: Divulgação
A Cidade Maravilhosa vai ganhar mais um cartão postal. O projeto de revitalização do Jardim de Alah, na Zona Sul, saiu do papel e, portanto, as obras já começaram para integrar natureza e espaço urbano de forma harmoniosa. Além de oferecer mais uma opção de lazer a cariocas e turistas, o projeto prevê ainda uma série de impactos positivos relacionados a aspectos ambientais, econômicos e sociais.
A história do Jardim de Alah teve início na década de 1920, a partir da construção de um canal, entre os bairros de Ipanema e Leblon, que passou a ligar a Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar. O objetivo era reduzir as enchentes na região. Em 1938, o ambiente foi contemplado com um jardim baseado no trabalho do urbanista francês Alfre- do Agache, sendo o arquiteto brasileiro David Xavier de Azambuja o responsável pelas obras. Lançado em 1936, o filme O Jardim de Alá serviu de inspiração para o nome do parque.

Há algumas décadas, era possível encontrar gôndolas e pedalinhos pelo canal, e, dessa forma, os visitantes podiam navegar pelas águas apreciando o jardim. Agora, a realidade é bem diferente. Embora o espaço de quase 100 mil metros quadrados já tenha passado por algumas reformas realizadas pela prefeitura, o estado de conservação ainda é precário e, por esse motivo, são poucas as pessoas que usufruem do local.
MUDANÇAS AMPLIAM
ÁREA VERDE EM 94%
O projeto de revitalização do Jardim de Alah existe desde 2015 e foi criado por três arquitetos – Miguel Pinto Guimarães, Sérgio Conde Caldas e João de Sousa Machado.Após aberto o trâmite para o processo de concessão, o Consórcio Rio + Verde, liderado pelo empresário Alexandre Accioly, venceu, em 2023, a licitação para recuperar e manter o Jardim de Alah por 35 anos.
Projeto de revitalização do Jardim de Alah
R$ 160 milhões em investimento
300 novas árvores no local
Solo 32% mais permeável
94% a mais de área verde
“O investimento original era de R$ 120 milhões, sendo R$ 18 milhões da outorga e R$ 100 milhões na construção do parque, além de um custo anual de manutenção de cerca de R$ 20 milhões aproximadamente. Mas, por causa do atraso — estamos há um ano e meio parados aqui — hoje, esse

investimento já está em R$ 160 milhões. Já foi investido aqui no parque R$ 40 milhões e agora vamos ter que investir mais R$ 120 milhões. Nós gastamos mais dinheiro com advogados do que com o projeto. Isso é fato”
esclarece Alexandre Acccioly em visita à obra e promete fazer eventos de inauguração na medida em que os espaços ficarem prontos.
O parque vai ganhar novas pontes sobre o canal, melhores ciclovias, cabine de polícia, infraestrutura para estacionamento e banheiros públicos.
Para a realização das obras, o Consórcio Rio + Verde possui licença de supressão de 130 árvores, o que representa 17,8% do total da área verde. Vale destacar que essa medida será adotada para a eliminação de plantas doentes, raízes invasivas e espécies exóticas inadequadas. Além disso, serão plantadas 300 novas árvores no local, o que, entre outros benefícios, contribuirá para a redução da temperatura do ambiente, devendo diminuir de dois a cinco graus.

O arquiteto Miguel Pinto Guimarães diz que, quando o assunto é sustentabilidade ambiental, o projeto vai muito além do replantio de árvores. Segundo ele, serão retirados 9 mil m2 de asfalto e vão desaparecer 650 metros lineares de rua, dando lugar ao saibro, material que aumenta a permeabilidade em 32% e evita problemas críticos no caso de chuva forte. A partir dessas mudanças, o Jardim de Alah contará com 94% a mais de área verde.
LAZER, ECONOMIA
E PROJETOS
Lojas, bares e restaurantes previstos prometem atrair o público, assim como fomentar o comércio na região.
Outra vantagem da revitalização é a economia que ela trará aos cofres públicos. Segundo o arquiteto, a concessão do Jardim de Alah significará quase R$ 1 bilhão a menos para a prefeitura no decorrer desses 35 anos. “O dinheiro que seria utilizado na manutenção do espaço, num verdadeiro ‘enxugar gelo’ para manter um lugar pouco frequentado, poderá ser revertido para áreas essenciais, como educação, saúde e segurança, e para regiões mais vulneráveis da cidade”, sugere.
O projeto Jardim de Alah recebeu a pré-certificação internacional SITES Platinum, que refere-se ao mais alto nível de reconhecimento de sustentabilidade. “Agora é colocar em prática aquilo que a gente projetou”, declara o arquiteto João de Sousa Machado.
A revitalização do parque será ainda responsável por mudar para melhor a realidade da Cruzada São Sebastião, comunidade localizada bem próxima ao Jardim de Alah, que possui cerca de cinco mil habitantes. “A nossa expectativa é que esse projeto se concretize logo. Há tempos esse local está abandonado e não queremos mais isso. Os imóveis na Cruzada serão valorizados, fortalecendo também a autoestima dos moradores, como aliás já vem acontecendo. Teremos ainda a questão da geração de empregos e de renda”, destaca Joel Nonato, presidente da associação de moradores da Cruzada São Sebastião.
Além disso, está prevista a construção de uma creche de 1.200 m2, com capacidade para 300 crianças, e de um ginásio esportivo, que será palco para diversos projetos sociais relacionados à prática de esportes. O de futebol será comandado por Paulinho Pereira, ex-jogador do Vasco da Gama e cria da Cruzada, como ele mesmo se define. “Importante lembrar que não apenas a Cruzada será beneficiada. Todos serão bem-vindos”, comenta Pereira.
“Importante lembrar que não se trata de um shopping. Os espaços comerciais representam apenas 8,5% da área total do parque. Mais de 90% continuarão áreas livres a céu aberto. Vamos otimizar a ocupação do espaço, trazendo mais beleza, mais leveza. E parque é parque. Então, vai ter mais árvores, mais sombreamento e amplos gramados.”
Miguel Pinto Guimarães, arquiteto.

QUADRO (ESQUEMA/PLANTA)
A Horta comunitária
B Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI)
C Quadras poliesportivas
D Parquinhos infantis
E Novas pontes para pedestres
F Restauro da praça Almirante Saldanha da Gama
G Parcão
H Restrauro do monumento à Batalha do Riachuelo
I Espaço para a terceira idade
J Boulevard com lojas e restaurantes
K Escola municipal Henrique Dodsworth
L Entrada do estacionamento
M Praça permeável para feiras
N Anfiteatro
OBRAS DEVEM DURAR
CERCA DE 18 MESES
A Revista Manchete entrevistou pessoas que moram ou passam pelo Jardim de Alah e os relatos foram de insegurança, como descreveu Filipe Sigaud: “Tá abandonado, quando passo por aqui sinto que tem uma chance de eu ser assaltado. Acho que é importante ter esse projeto, vai dignificar muito a região aqui”.
As associações de moradores de Ipanema e do Leblon também são favoráveis à concessão. Em abril de 2024, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) entrou com uma ação civil pública para impedir o início da revitalização. Com isso, o projeto ficou parado por mais de um ano. Em maio de 2025, a 6ª Vara de Fazenda Pública voltou a liberar as obras. O MPRJ recorreu da decisão, mas o recurso apresentado foi negado, em 16 de junho, pelo desembargador Sérgio Seabra Varella, da 4ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Isso significa que a liberação para a retomada das obras segue valendo. “Começamos as obras”, comemora Accioly em visita ao local.
Os membros do consórcio Rio + Verde receberam com muito otimismo a decisão do TJ e se comprometeram a realizar o projeto de forma responsável e sustentável, de acordo com os parâmetros das leis ambientais e diretrizes urbanísticas. O cenário de abandono em uma das áreas mais nobres do Rio está com os dias contados.
De acordo com o gestor da obra, Paulo Bodas, nessa primeira fase, o terreno é preparado e alguns itens são identificados para aproveitamento, como postes e bancos. Serão necessários cerca de 18 meses para que o projeto seja concluído e a população possa aproveitar tudo o que o novo Jardim de Alah tem a oferecer. E o melhor: gratuitamente.
Mariana Leão é jornalista, apresentadora, repórter e editora, com passagem pelas emissoras Globo, Record, Rede TV e Band.