Gato
UM PACIENTE ESPECIAL
Diferentemente dos cães, os felinos não demonstram quando estão doentes e não gostam de sair de casa – muito menos para ir ao veterinário. Por isso, os tutores precisam redobrar os cuidados para assegurar a saúde de seus gatinhos em todas as fases da vida deles.
Quando comparamos cachorros e gatos, um detalhe chama a atenção: os felinos foram domesticados há bem menos tempo do que os cães – presume-se que tenha sido há 10 mil anos, contra 20 a 30 mil anos dos seus “au-migos”. Embora pareça uma eternidade, isso ainda faz com que os bichanos tragam muitas características de sua vida selvagem como predadores. “E um predador não demonstra fraqueza, nem doenças. Os gatos escondem muito o que estão sentindo”, esclarece a veterinária Alessandra Cesário, especializada em medicina felina.
Por esse motivo, as visitas regulares à clínica são fundamentais, porque será durante as consultas que o especialista conseguirá perceber se o animal tem algum problema. “Como o gato é muito discreto para expor os sintomas de que vem apresentando uma doença, só mesmo fazendo o check-up uma vez ao ano para conseguir ter um padrão do paciente. Isso envolve exame clínico, exame de sangue, radiografia de tórax e ultrassonografia. Assim o veterinário vai saber sobre o peso, a temperatura média, a frequência cardíaca e a palpação abdominal que são um padrão de normalidade dele. E quando, em um determinado momento, alguma dessas características muda, já percebemos que algo está acontecendo com o gato”, explica Alessandra.
Na verdade, a veterinária considera que o ideal seriam duas consultas ao ano. Porém, para gatos mais novos, a visita anual à clínica seria o suficiente. Já a partir de 5 ou 6 anos, vale aumentar a frequência, assim como será incluído no check-up mais um exame: o cardiológico. E os tutores não devem achar que seja um exagero. “Sem todos esses exames, realmente não temos como perceber se o gato está com algum problema”, assegura a especialista em felinos.
Mas será que o tutor pode levar o seu gatinho a qualquer clínica veterinária, para que seja atendido por um clínico geral? Alessandra responde: “Obviamente, um clínico geral saberá tratar as principais doenças de um gato. Mas eu recomendo muito que se procure um veterinário especialista em felinos. Ele saberá a melhor maneira de lidar com o pet, conseguindo examinar sem estressá-lo”. E foi justamente para entender mais a respeito desse diferencial de atendimento que a Revista Manchete acompanhou Alessandra Cesário em sua rotina de consultas no Hospital Veterinário Città Vet – clínica humanizada, como você poderá acompanhar a seguir.
GRANDE ALÍVIO PARA A DOR
Durante a nossa visita à clínica bem equipada, Alessandra estava atendendo o Pedro Augusto, um gatinho de 14 anos, da tutora Maria Ignês Pimentel. O felino havia chegado à clínica uns 40 dias antes, com um quadro de fortes dores articulares. E, diante disso, já surge um aspecto a ser observado nos gatos idosos: “As pessoas costumam achar que o gato mais velho está mais parado por conta da idade. Mas, muitas vezes, isso acontece porque ele tem dor. Cão com dor articular manca. Já o gato não dá esse sinal. Ele fica quieto, começa a dormir mais e para de subir na pia, na cama…”, ensina a veterinária.
Na primeira consulta, Alessandra diagnosticou o problema: Pedro Augusto tinha coxartrose, uma das principais doenças ortopédicas do felino idoso, que se caracteriza pela dor no quadril. Para tratá-lo, a especialista prescreveu um medicamento inovador, o Solensia, que age no sistema nervoso do animal, impedindo a ligação ao neurônio que causa a dor.
Injetável, sua recomendação de uso é mensal. E, naquele dia, Pedro Augusto estava na clínica para repetir a segunda dose da medicação, que está ajudando muito a reduzir as dores do idosinho. Quem assegura isso é a tutora Maria Ignês: “Ele agora está praticamente 100%. Pedro Augusto sempre foi um gato ativo, que gostava de subir nas coisas e fazer as peraltices dele, e de repente começou a ficar parado, só dentro da caminha. Um outro veterinário receitou corticoide, mas ele ficou muito agitado. Quando trocamos para a medicação atual, ele respondeu super bem ao tratamento. Agora, o velhinho voltou à ação”.

Após a consulta com direito à nova dose de Solensia, Pedro Augusto foi liberado e a veterinária partiu para o seu segundo atendimento do dia: a gatinha Maria, de apenas 1 ano e 1 mês.
“Coxartrose é uma doença grave. O pet pode deixar até mesmo de entrar em sua caixinha de areia, porque passa a ter dificuldades de ficar na posição para evacuar. Isso pode trazer problemas urinários ou constipação fecal.”
Alessandra Cesário, veterinária
DE OLHO NA VACINAÇÃO
Gato saudável é gato vacinado! Por isso, é preciso cumprir anualmente um protocolo vacinal, como indica Alessandra Cesário. “No Rio de Janeiro, alguns veterinários seguem protocolos internacionais e optam por dar a vacina tríplice, porque não acham necessário proteger contra clamidiose. Mas, na região em que atendo, costumo receber muitos pacientes com clamídia. Por isso, sempre aplico a vacina quádupla, que inclui a proteção contra essa doença”, explica.
A veterinária alerta para uma vacina que não pode falar para os gatinhos cariocas: contra a FeLV (leucemia felina). “Essa é a principal virose que temos. No Rio, há uma incidência muito grande dessa doença que não tem cura e que leva os animais a óbito. Então, recomendo vacinar sempre que o animal tem acesso à rua ou quando possa ter contato com outros gatos”.
Veja, a seguir, as vacinas principais para gatos:
Contra FeLV
Antirrábica
(contra raiva)
Tríplice: contra herpesvirus (causa gripe), panleucopenia (provoca vômito e diarreia e é fatal em filhotes) e calicivírus (semelhante à gripe, com comprometimento ocular e lesões na língua)
Quádrupla: Contra as três doenças protegidas pela Tríplice mais clamídia (conjuntivite severa com espirros e secreção nasal)
É PRECISO DAR VERMÍFUGO AO GATO?
Sim! Existem mais de cem tipos de vermes intestinais e ainda não há qualquer medicamento completo para esse combate. “Por isso, quando suspeitamos de verminose, precisamos fazer algumas associações medicamentosas em alguns gatos que, por exemplo, têm acesso à rua ou que moram em casa com quintal, podendo ter mais contato com outros vermes além dos combatidos pelo Revolution”, explica Alessandra. Assim, a cada seis meses, ela prescreve para seus pacientes outros vermífugos complementares.
GATOS TAMBÉM PODEM TER CARRAPATO?
Muita gente pensa que carrapatos só atingem cães. Não é bem assim. Alessandra esclarece: “O gato não é o hospedeiro principal desse parasita. Porém, em algumas situações, quando não tem cães no ambiente, o carrapato pode, sim, infestar o gato. Não é comum, mas se o gato estiver numa região lotada de carrapatos e não tiver algum outro hospedeiro principal para eles, vão acabar infectando o felino também”. Só que vale lembrar: aqueles que estiverem recebendo Revolution mensalmente estarão livres dessa ameaça.
PREVENÇÃO É O IDEAL
Maria estava na clínica para o seu primeiro check-up anual. “Aparentemente, ela não tem nada. Mas, mesmo sendo uma gata saudável, veio cumprir a rotina pediátrica dela, porque ainda é praticamente um bebê”, comenta Alessandra. Para começar os exames, a veterinária teve uma preocupação bem simples, mas que pode passar despercebida por outros profissionais: ela forrou com um pano a mesa de atendimento – que, por ser de inox, é fria. “Os gatos ficam muito mais confortáveis durante a consulta quando colocamos esse paninho, porque o gelo da mesa incomoda muito eles”, explica a especialista em felinos.Delicadamente, Alessandra começou a fazer o exame clínico em Maria, passando as mãos sobre seu corpinho. “O exame do gato deve ser muito sutil. Parece que estou só fazendo carinho, mas na verdade já estou examinando”, conta a veterinária, enquanto faz a palpação na gatinha. Após perceber que estava tudo bem, Maria seguiu para a radiografia de tórax e a ultrassonografia. E, felizmente, os exames de imagem constataram que a felina estava, realmente, muito bem.
Diante desse quadro animador, Maria não poderia ir embora da clínica sem realizar a prevenção anual. “Ela precisa receber as vacinas contra raiva e leucemia, além da vacina quádrupla viral, contra quatro doenças. Também vou aplicar nela o Revolution, que previne contra pulgas e vermes”, adianta Alessandra.A veterinária aproveitou para explicar algo muito relevante para os tutores protegerem seus gatinhos. Além de Revolution – que é um vermífugo de aplicação mensal – prevenir contra os vermes Toxascaris, Toxocara e Ancylostoma, que atingem os gatos, ele faz a prevenção, principalmente, contra o verme do coração (parasita Dirofilaria). “Saber disso é muito importante, porque as pessoas falam pouco de verme do coração em gatos, achando que só ocorre em cachorros. Mas felinos também estão sujeitos a essa doença grave, e o Revolution é o único medicamento que faz essa prevenção”, alerta Alessandra. E, vale reforçar, esse produto é de uso simples, em gotinhas aplicadas na região dorsal do gato, sendo possível o próprio tutor realizar essa prevenção mensal em casa.
Após ser vacinada e vermifugada, Maria foi liberada pela veterinária. Como se vê, a rotina clínica para gatos está avançada, e não se deve mais achar que eles são pets resistentes e que não precisam ir regulamente a uma clínica. Alessandra mostrou que a evolução de uma possível doença é silenciosa nos felinos, e somente os exames regulares darão a tranquilidade que os tutores precisam para desfrutar dessa convivência amorosa com toda a saúde possível.
Dra. Patrícia Pimentel, sócia-fundadora e especialista em dermatologia