
Sávio Neves
A TRAJETÓRIA DO MINEIRO
APAIXONADO PELO RIO
Ele se considera um “mineiroca”, o bom mineiro com alma carioca. Sávio Neves é engenheiro, empresário e presidente do Trem do Corcovado. Nascido na cidade de São João del-Rei, pertencente a uma família tradicional no cenário político de Minas e do Brasil, ele, que estampa a capa da Revista Manchete desta edição, conta sua história de prosperidade no setor de turismo.

Além de ser presidente do Trem do Corcovado, Sávio é vice-presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais, teve participação na construção do AquaRio, atuou na revitalização do Hotel das Paineiras, contribuiu com a chegada da primeira roda-gigante panorâmica do Brasil, entre outros empreendimentos com a sua digital e participação ativa. Ele também exerceu o cargo de secretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro em 2022 e é presidente do diretório estadual do PSDB.
Nesta entrevista à Revista Manchete, veículo em que assina a coluna de Turismo Empresarial, sempre trazendo personalidades e temas relevantes do setor, Neves aborda não apenas os aspectos pessoais, profissionais e políticos da sua trajetória de vida, mas também assuntos considerados importantes, e até delicados, como a mobilidade urbana.

“ (…) Tancredo Neves, meu tio-avô, que chegou à presidência da República, mas, em 1985, acabou falecendo e não assumindo o cargo, e o vice José Sarney foi empossado. A morte do Tancredo gerou uma grande comoção nacional. Ele tinha uma enorme capacidade de mobilizar as massas e teve uma grande trajetória política em Minas e no Brasil.”
Você é presidente estadual do PSDB no Rio de Janeiro, um partido nacionalmente importante. Mas, antes de tudo, sabemos que a sua história não começa no Rio, e sim em Minas Gerais, com uma trajetória de envolvimento político muito em função do seu sobrenome. Conte um pouco dessa história.
Minha família (família Neves) é muito tradicional em São João del-Rei, desde Tancredo Neves, meu tio-avô, que chegou à presidência da República, mas, em 1985, acabou falecendo e não assumindo o cargo, e o vice José Sarney foi empossado. A morte do Tancredo gerou uma grande comoção nacional. Ele tinha uma enorme capacidade de mobilizar as massas e trilhou uma grande trajetória política em Minas e no Brasil. Além do Tancredo, tem o meu primo Aécio Neves. O Aécio também construiu uma brilhante carreira, com 40 anos de mandatos ininterruptos. Foi governador de Minas Gerais por dois mandatos e conseguiu modernizar a máquina pública estadual.
O engraçado é que a pessoa que identificou em mim a possibilidade de ajudar na política partidária foi o senador Francisco Dornelles, que depois assumiu como governador do Rio de Janeiro e faleceu em 2023. Ele enxergou em mim essa capacidade de colaborar com o partido em que ele era presidente, o Partido Progressista (PP). Em 2009, ele me fez o pedido para concorrer a deputado federal nas eleições de 2010, oportunidade em que o Aécio disputou a presidência da República. Eu me lancei candidato com o apoio direto do Dornelles, e, na minha primeira eleição, conquistei quase 30 mil votos, ficando em quarto lugar dentro do partido, sendo um resultado bem significativo logo na minha primeira disputa eleitoral.
Fiquei no PP durante 12 anos, e por um pedido do próprio Dornelles, já no final da sua vida, me filiei ao PSDB para ajudar o Aécio, especialmente no período em que o partido estava se reencontrando com a sociedade. Permaneço com essa missão no PSDB, e acredito que nós temos tido sucesso nessa caminhada.
Você é engenheiro por vocação ou a engenharia entrou na sua vida exatamente no momento em que começou a trabalhar no segmento? Já havia projetado a sua carreira?
Essa pergunta é bem interessante. Meus três filhos são engenheiros. No meu caso, não foi por vocação, nem durante o caminho. Mas não me arrependo dessa jornada. Fui estagiário e depois absorvido como engenheiro júnior em uma empresa de consultoria que funcionava na avenida Rio Branco. E logo depois fui para a Varig trabalhar dentro da oficina. Era engenheiro júnior, de macacão, dentro dos hangares, na área industrial. Já em 1999, recebi um convite para trabalhar na manutenção do Trem do Corcovado e decidi aceitar o desafio. Em 2007, me tornei diretor da empresa. No ano seguinte, assumi como presidente-executivo e, até hoje, continuo exercendo esse cargo.
Mas dentro dessa caminhada no Trem do Corcovado, existem marcas pontuais suas, inclusive a campanha do Cristo Redentor para ocupar a posição de uma das sete maravilhas do mundo.Em 2007, uma entidade ligada à ONU, na Suíça, criou uma campanha internacional para a eleição das novas sete maravilhas do mundo, considerando que as antigas já haviam sido exterminadas pela guerra ou pelas adversidades climáticas. E eu enxerguei, naquela ocasião, ainda como diretor da empresa, a importância de que o Cristo ganhasse esse concurso, colocando a cidade na vitrine internacional. Lógico que, para mim, também era muito importante pela questão comercial, pois naturalmente seria muito bom para o Trem do Corcovado.
Fizemos uma campanha intensa, apesar de ninguém acreditar na possibilidade de vencermos. Ganhamos o concurso, e é um legado que fica para a eternidade.
Além do Trem do Corcovado, presidido por você, outros empreendimentos puderam contar com a sua participação direta, muito especialmente os equipamentos turísticos do Rio de Janeiro.

No Trem do Corcovado, eu tinha um grande projeto, que era renovar a frota. Fizemos um investimento de R$ 250 milhões para que isso acontecesse. E comecei também a identificar outras oportunidades de negócios. Um exemplo disso, bem ali do lado, é o Hotel das Paineiras, um ícone da hotelaria, mas que estava abandonado. Hoje, voltou a ser um grande centro derecepção aos turistas, administrado pelo Grupo Cataratas.
O AquaRio foi um outro grande investimento. E o interessante é que, quando nós o projetamos, imaginávamos 600 mil pessoas por ano visitando o tal aquário marinho do Rio de Janeiro, que ficaria em uma área deserta e desvalorizada da cidade. Mas as coisas mudaram, e aquela área acabou virando o xodó do prefeito Eduardo Paes. Fizemos um investimento de R$ 150 milhões e logo no primeiro ano de funcionamento batemos a marca de um milhão e seiscentos mil visitantes.
“Hoje temos o trem mais moderno do mundo, com a melhor engenharia ferroviária embarcada. O trem do Corcovado transporta 1,5 milhão de turistas anualmente dentro do conceito de sustentabilidade e segurança.”
Na sequência, outras oportunidades foram aparecendo. Vizinho ao AquaRio, temos a roda-gigante Rio Yup Star, com 90 metros de altura e a primeira desse tamanho no Brasil. Até hoje, um sucesso absoluto na cidade. E posteriormente, surgiu uma oportunidade em Miguel Pereira, a convite do então prefeito André Português, para ajudar na revitalização do trem da cidade, a Maria Fumaça. É a única ferrovia turística no interior do Rio e que hoje está operando graças à dedicação do André. Em seguida, veio o Parque Terra dos Dinos.
Sávio, agora vamos falar dos novos projetos que estão por vir, inclusive em curto prazo de tempo. Como anda o projeto do Terreirão, na avenida Presidente Vargas, bem no Centro do Rio?
Esse projeto me empolga demais. Na verdade, é a antiga Praça Onze, que ganhou esse equipamento chamado Terreirão, e que funciona apenas uma vez por ano, no período do carnaval. E a prefeitura enxergou a possibilidade de termos operações diárias naquele espaço. Nós dividimos aquele terreno, que antigamente possuía um belíssimo chafariz, o qual nós vamos devolver ao local. Vamos dividir o espaço com o museu do samba e da bossa-nova, uma área gastronômica semelhante ao Mercado da Ribeira, em Portugal, e uma área reservada para shows, incluindo camarotes e área VIP. Eu, Carlos Favoretto e o grande arquiteto Sérgio Dias estamos nesse projeto. Ganhamos a licitação e estou muito animado. Acredito que em 2026 já tenhamos esse equipamento funcionando.
Agora precisamos falar de um outro projeto que você está à frente, e que é uma iniciativa fundamental pela questão do engarrafamento que a Barra da Tijuca enfrenta. Esse projeto vai trazer melhorias para a mobilidade nessa região?
Sim, é um projeto revolucionário! Nós vamos criar um sistema de transporte público de massa. Estamos falando de 90 mil pessoas por dia.
É um projeto ambicioso que liga todo o complexo lagunar de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca, considerado a “Veneza Carioca”, pois nós temos a Lagoa de Marapendi, a Lagoa da Barra, a Lagoa do Camorim e, logo na sequência, a Lagoa de Jacarepaguá. E ainda temos a Lagoa da Tijuca. Ou seja: são cinco lagoas interligadas, que atenderão várias comunidades, condomínios e shoppings. A ideia é trazer essa população para o metrô da Barra, no Jardim Oceânico, e o sentido contrário de quem está vindo de metrô e que pode pegar o barco na Lagoa da Barra, e assim cada um segue para a sua residência dentro desse processo de interligação.
São 16 estações com mini shoppings, estacionamentos, bicicletários e tudo de mais moderno que existe, prezando também pela sustentabilidade. O projeto é liderado pelo arquiteto e urbanista Sérgio Dias, com um prazo de 12 meses para a sua implementação. Serão 70 catamarãs, de alto nível, permitindo que as pessoas possam ir com uniforme de trabalho, terno, etc. Sempre com todo o conforto e segurança. E será no mesmo valor do cartão Jaé. A pessoa poderá vir de BRT e já ir direto para o barco. Será integrado. É um projeto popular de transporte público de massa com a mais absoluta qualidade.
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Você também já foi secretário de Estado de Turismo. E como tal, também propôs um projeto interessante de mobilidade no Aeroporto RioGaleão.
Eu nunca entendi a razão de aqui termos dois aeroportos que não possuem uma ligação, fazendo com que, no caso de alguma eventualidade, as pessoas precisem encarar engarrafamento na Linha Vermelha, entre outros transtornos que, muitas vezes, fazem o passageiro perder o horário de voo. E eu achei super viável a implementação de uma barca. Até porque, já existe uma que liga a Ilha do Governador até a Praça XV. Fizemos um estudo, e é um projeto extremamente viável. Quando eu entrei na secretaria, foi um dos nossos projetos-chave. Criar essa interconexão entre o Galeão e o Santos Dumont é fundamental.
Acho necessária a união do Judiciário, Ministério Público, entidades governamentais ligadas à assistência social, além do governo federal para alavancarmos vários projetos, principalmente na questão da segurança. É preciso força e vontade política para fazer acontecer e temos totais condições de implementar muitos trabalho juntos.



Projetos que contaram com a participação de Sávio Neves: AquaRio, Terra dos Dinos (em Miguel Pereira), revitalização do Hotel das Paineiras e Rio Yup Star.