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Cachaça, a bebida destilada brasileira

Cana, branquinha, mé, pinga, marvada – ou simplesmente cachaça. São tantos nomes! Feita a partir do caldo de cana, tornou-se tão popular a ponto de ser referência de bebida destilada brasileira. Integrante do imaginário afetivo de milhares de pessoas, a cachaça está presente em diferentes regiões e classes sociais do país. E o estado do Rio de Janeiro ocupa seu lugar de relevância na produção da bebida, especialmente no município de Quissamã, na região Norte Fluminense.

Cachaça, a bebida destilada brasileira

Considerada até “um santo remédio” pela crendice popular, existem mais de 10 mil marcas brasileiras de cachaça. O estado do Rio de Janeiro, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, ocupa a terceira colocação em marcas registradas e produtos da bebida, atrás apenas dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Partindo dessa premissa, a Revista Manchete foi ao Engenho São Miguel para mergulhar nos alambiques e desvendar os mistérios dessa bebida que frequenta desde botecos a restaurantes luxuosos. Potência quando o assunto é produção de cachaça, o município de Quissamã, na região Norte Fluminense do estado, é o local onde se encontra a Cachaça Sete Engenhos, marca consolidada no mercado por sua credibilidade no segmento de bebidas.

“Quissamã tem uma tradição muito grande em produzir cana, açúcar e cachaça. E a cidade viu seu apogeu a partir da fundação do primeiro engenho central do país. Ao longo dos anos, a nossa família se dedicou aqui à produção de cana, açúcar e cachaça”, declarou Haroldo Carneiro, proprietário do Engenho São Miguel. 

Segundo Haroldo, o conceito inicial para uma produção adequada de cachaça passa por uma boa e indispensável qualidade da cana.

“A primeira coisa é ter uma boa matéria-prima, uma boa qualidade de cana. Aqui no Engenho São Miguel, toda a nossa cana é produzida de forma orgânica. A gente não usa qualquer produto químico. Ela é colhida sem queimadas e feita toda a higienização necessária. E aqui começamos o processo a partir de uma boa matéria-prima. O segredo também é ter uma fermentação muito bem-feita, livre de qualquer impureza.”

Haroldo Carneiro, proprietário do Engenho São Miguel

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

A preocupação com a sustentabilidade é um processo incontestável no desenvolvimento da cachaça no Engenho São Miguel. Desde a produção da cana orgânica até o reaproveitamento de todos os produtos da fábrica, o objetivo é manter um bom equilíbrio com o meio ambiente, seguindo o princípio de que nada se perde. Tudo se transforma em gigantescas potencialidades no âmbito das etapas de produção.

O ambiente da fermentação é exatamente o que chamamos de dornas de fermentação. Aqui, quando o caldo da cana é esmagado na moenda, é transferido para cá e iniciamos todo o processo, em que as leveduras são as nossas grandes contribuidoras, usando a cachaça e transformando todo o açúcar que existe no caldo de cana em álcool. Esse processo demora em torno de 24 horas. Nós também temos a oportunidade de separar o início da destilação do final, chamado de cabeça e cauda, que possuem álcoois que não são desejáveis e que usamos para a produção do etanol. Mais uma prática sustentável aqui dentro da nossa fábrica. Então, não utilizamos a cabeça e a cauda na cachaça, e sim para a produção de etanol”, explicou Haroldo.

DO SINGELO AO SOFISTICADO

Durante a conversa com a Revista Manchete, Haroldo Carneiro também citou o aspecto da adesão da cachaça por diferentes classes sociais, passando pelos espaços mais singelos e chegando aos ambientes requintados da sociedade.

“Há algumas décadas, a cachaça era considerada uma bebida de periferia. Ela ainda hoje continua sendo muito consumida nesses pontos mais isolados. Mas ela também adentrou nos melhores bares e restaurantes das capitais brasileiras, como São Paulo e Rio. Você vai lá na Dias Ferreira, na Barão da Torre, em qualquer lugar que tem um restaurante de altíssimo nível, e observa que todos eles hoje possuem uma carta de coquetelaria com cachaça. Então, a gente percebe que já está sendo muito apreciada em todos os níveis sociais”, disse.

ATUAÇÃO COM A CLIENTELA E TRABALHO DE EXPORTAÇÃO

Atuando perante mais de duzentos clientes no Rio de Janeiro, e com trabalho consolidado no exterior, Alexandre Carneiro, analista de resultados do Engenho São Miguel, detalhou como as ações com a clientela são realizadas:

“Hoje nós temos no Rio um embaixador, que é o Pedro Barros, e ele é o responsável por estar de bar em bar visitando os clientes e também abrindo possibilidades com clientes novos. E aqui no Engenho, fazemos todo o acompanhamento dos pedidos e podemos ver a média que o cliente costuma solicitar e conferir para ver se, de repente, já passou do tempo que ele deveria fazer uma segunda solicitação. Acompanhamos tudo rigorosamente”, disse.

O relacionamento estabelecido com o trabalho de exportação da Cachaça Sete Engenhos para mais de 15 países foi destacado pela gerente administrativa Mayara Matos.

“Apesar de ser uma cachaça do interior, uma empresa pequena e de gestão familiar, é muito interessante vermos que a cachaça daqui de Quissamã está presente em diversos países. O processo é um pouco burocrático, diferente do que a gente faz para a venda dentro do Brasil, contando com uma série de documentos. Você tem que ter um agente aduaneiro para auxiliar nesse processo, pois se trata de uma burocracia maior. No entanto, também nos dá um resultado muito melhor.”

Mayara Matos, gerente administrativa da Cachaça 7 Engenhos

A CACHAÇA MANCHETE

Uma das especialidades da Cachaça Sete Engenhos é o desenvolvimento de rótulos personalizados, começando pela Cachaça Sete Engenhos Imperial. A empresa produziu o blend exclusivo em comemoração aos 450 anos do Rio de Janeiro, lançado por ocasião das festividades na Cidade Maravilhosa, além dos rótulos destinados ao Copacabana Palace e Cristo Redentor, que credenciou a Sete Engenhos como o único destilado no mundo inteiro a possuir chancela para utilizar a imagem do monumento.

Uma das especialidades da Cachaça Sete Engenhos é o desenvolvimento de rótulos personalizados, começando pela Cachaça Sete Engenhos Imperial. A empresa produziu o blend exclusivo em comemoração aos 450 anos do Rio de Janeiro, lançado por ocasião das festividades na Cidade Maravilhosa, além dos rótulos destinados ao Copacabana Palace e Cristo Redentor, que credenciou a Sete Engenhos como o único destilado no mundo inteiro a possuir chancela para utilizar a imagem do monumento.

“É um rótulo feito com muito carinho. E nós, que somos da época da Revista Manchete, ficamos muito orgulhosos em poder produzir mais esse rótulo e com ainda mais qualidade. Estamos felizes em juntar a nossa marca a uma outra marca que é tão tradicional, como a Manchete.

Haroldo Carneiro, proprietário do Engenho São Miguel

A HISTÓRIA DO ENGENHO SÃO MIGUEL

O Engenho São Miguel possui quatrocentos anos de atuação no manejo da cana de açúcar, associando credibilidade, produção sustentável e tecnologia de ponta. Tradição, qualidade e sustentabilidade são os princípios que norteiam a atuação da família de Haroldo Carneiro (fundador da Sete Engenhos) e seguidos à risca até os dias atuais.

Alambique da Cachaça Sete Engenhos

A história do Engenho São Miguel está absolutamente entrelaçada com a história do Brasil. Os antepassados de Haroldo participaram diretamente da fundação do Rio de Janeiro, ao lado de Estácio de Sá. Posteriormente, na Ilha dos Sete Engenhos (atual Ilha do Governador), passaram a se debruçar na produção de cana, cachaça e açúcar.

No ano de 1661, José de Barcelos Machado, também ancestral de Haroldo Carneiro, participou da Revolta da Cachaça. Já no final do século XVII, a família Barcelos decidiu trocar a Ilha dos Sete Engenhos pelas terras de Quissamã, na região Norte do Rio. 

Manoel Carneiro da Silva, fundador do primeiro engenho de Quissamã, por volta de 1770, se casou com Ana Barcelos Coutinho, uma das herdeiras da família Barcelos.

Entrada da fazenda São Miguel

ASCENSÃO DE QUISSAMàNA PRODUÇÃO AÇUCAREIRA

Com a chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro em 1808, o município de Quissamã passou a vivenciar seu momento de glória com o crescimento da produção açucareira. Em 1858, os herdeiros de Manoel Carneiro da Silva fundaram sete engenhos de açúcar e cachaça, entre eles o Engenho São Miguel, em 1858. Já em 1877, foi estabelecida a unificação dos sete engenhos, consolidando o Engenho Central de Quissamã, sendo o primeiro de toda a América Latina.

Com o passar do tempos, já nos anos 2000, o Engenho Central de Quissamã foi impactado pela crise na produção canavieira, obrigando-o a interromper suas atividades e, por consequência, a fechar suas portas.

Sala de armazenamento e envelhecimento da cachaça

A partir de 2010, Haroldo Carneiro reabriu suas portas. Uma das primeiras iniciativas na reabertura foi a implementação de novos formatos e de técnicas atualizadas na produção e no manejo de cana, zelando permanentemente pelas práticas de sustentabilidade no engenho.

Nos anos seguintes, marcos significativos se somaram à trajetória da Sete Engenhos. A medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas pelo tradicional blend com a variante Cerejeira, a modificação da identidade visual e a mudança definitiva de nome, passando de Cachaças São Miguel para Sete Engenhos, entre tantos outros avanços, credenciaram a marca como uma das mais bem posicionadas no mercado de bebidas.

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